A Intel, a empresa californiana que já foi sinônimo de microprocessadores, ficou para trás na corrida pelo desenvolvimento dos chips de inteligência artificial e fará um turnaround profundo.
Na quinta-feira à noite, depois que o mercado havia fechado, o CEO Pat Gelsinger anunciou um plano para reduzir os custos operacionais em US$ 10 bilhões no próximo ano, incluindo a demissão de 15.000 dos atuais 116.500 funcionários e a suspensão dos dividendos.
A Intel reportou resultados abaixo do esperado, com vendas de US$ 12,8 bilhões no trimestre e um prejuízo de US$ 1,6 bi no período, ante um lucro de US$ 1,5 bi no mesmo tri do ano passado.
As ações caíram 20% no after hours de ontem – o maior tombo desde 2000. Os papéis afundam 28% agora pela manhã, recuando ao menor nível desde 2012.
As ações já acumulavam perda de 40% no ano mesmo antes dos anúncios de ontem – num período em que o Nasdaq, apesar da correção recente, subiu quase 15%. O tombo da Intel no ano agora já chega a 57%.
A companhia fundada por Gordon Moore e Robert Noyce em 1968, agora está sendo ultrapassada em uma de suas principais frentes de negócios, a venda de processadores para data centers.
É um mercado que passa por uma disrupção histórica em direção aos processadores de IA, onde a líder no fornecimento dessa nova tecnologia é a Nvidia.
“O avanço da inteligência artificial foi muito mais agudo do que eu esperava – e precisamos nos ajustar,” Gelsinger disse ao Wall Street Journal.
A Meta, por exemplo, anunciou que espera ter 600.000 processadores da Nvidia até o fim do ano em seus data centers de IA.
A dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp está construindo dois clusters para treinar e processar seus modelos de IA, e a infraestrutura é toda baseada nas GPUs (unidades de processamento gráfico) da Nvidia, os chips mais avançados para desenvolver e rodar os sistemas de IA generativa.
Gelsinger, que assumiu o comando da Intel há três anos, disse num email aos funcionários que a Intel tem custos muito altos e margens muito baixas.
O executivo disse que o quadro de pessoal continuou inchando mesmo diante da piora nos resultados, e que há muita complexidade, burocracia e ineficiência na companhia, de acordo com o WSJ.
A nova geração de chips de IA da Intel, a família Gaudi, deverá faturar apenas US$ 500 milhões em 2024. Para efeito de comparação, a Nvidia fatura mais de US$ 20 bilhões por trimestre, e a AMD, US$ 4,5 bilhões.
A Intel tem investido na fabricação de chips para terceiros – disputando espaço num mercado hoje dominado pela TSMC. Mas os resultados até agora também têm sido fracos.
“As questões da Intel hoje são quase existenciais,” disse à Reuters um analista da Bernstein.
Dominante no mercado de PCs, a Intel começou a perder mercado com o advento da era dos celulares, em que empresas como a Apple demandavam chips mais compactos e menos caros.
Agora, ficou para trás na corrida da IA.