Elie Horn, antes de tudo, é um homem que prega e faz o bem – e sem limites.
E isso vem muito antes dele fundar a Cyrela, a incorporadora e construtora mais valiosa da Bolsa, ou de assinar em 2015 o “The Giving Pledge” com a sua esposa Suzy, o compromisso filantrópico de doar a maior parte de sua fortuna em vida.
O sírio nascido em Alepo, em 1944, foi para o Líbano ainda bebê e viu de perto o que a falta de dinheiro pode fazer. Seu pai, Rafael Horn, um comerciante com duas lojas de tecidos, teve que sair às pressas do país após falir – o que era considerado um crime na época.
“Com pouca idade, entendi uma dura realidade: que quando seus pais perdem todo o dinheiro, a maioria das pessoas que se diziam amigas se afastam, e outras lhes dão as costas,” escreveu em Tijolos do Bem (Editora Sêfer; 190 páginas), que acaba de ser lançado.
Mas os poucos que restaram ajudaram a família de “seu Elie”, como é carinhosamente chamado por praticamente todos a seu redor, a ter acesso ao básico até chegarem ao Brasil em 1955 – com a promessa de estarem atracando no “País do futuro”.
A despeito dos vários problemas do Brasil, a família prosperou — e Elie, mais ainda, criando uma incorporadora que hoje vale R$ 8 bilhões na Bolsa.
Mas o empresário não esqueceu dos que o ajudaram no caminho, nem do exemplo de seu pai: mesmo tendo passado por tantas dificuldades, Rafael doou 100% do que tinha.
Há quatro décadas, ano em que a mãe de Elie faleceu, ele decidiu que seguiria o caminho do pai e doaria tudo que tinha. Um homem de fé inabalável, o empresário acredita que doar, além de ajudar quem mais precisa, garante uma “poupança” onde mais importa: na eternidade.
O empresário decidiu consultar a família sobre sua decisão. Concordaram que ele doaria 60% do patrimônio, e seus filhos insistiram que ele o fizesse ainda em vida.
Até agora, foram mais de 200 projetos atendidos por suas doações.
Além disso, outra missão de Elie tem sido provocar outros a seguir o seu caminho. Não por acaso, em 2017 o Wall Street Journal lhe deu a alcunha de “Dom Quixote brasileiro”.
“Aceito a comparação com o personagem de Cervantes porque corro atrás dos meus sonhos,” escreve Elie. “Posso ser considerado ingênuo ou sonhador, entretanto não desisto do meu propósito.”
Um dos impactados foi Roberto Setubal, que escreve o prefácio da obra. O banqueiro foi “forçado” por Elie a fazer uma grande doação.
Em uma negociação com Elie para comprar um apartamento em 1993, Setubal tentou um desconto. Elie, então, fez uma proposta: ele daria o desconto, desde que o então presidente do Itaú pegasse todo o dinheiro que economizaria e doasse para alguma instituição de caridade.
Negócio fechado.
Abaixo, o Brazil Journal publica um excerto do capítulo “Simplesmente o bem.”
O fio condutor que atravessa minha vida pessoal, familiar e profissional é fazer o bem, sem limites. Reconheço que sou intenso, convicto e gosto de tudo feito para ontem. Na minha pauta diária, tenho a missão de proporcionar às pessoas de baixa renda uma vida com mais oportunidades; a pobreza me machuca. Investir no bem faz parte da minha missão, pois o mundo pode ser o palco do bem.
Meu objetivo é ser uma ponte, intermediando o doador e o receptor, facilitando o caminho e a confiança no investimento social. É uma ação genuína que me move – o bem pelo bem, e não para satisfazer meu ego. Gostaria de levar todos nessa viagem comigo, como se fosse um trem passando e carregando em seus vagões os passageiros que, juntos, levam mais empatia para toda a humanidade.
Pode parecer ingenuidade, mas é um sentimento real.
Chegamos nus ao mundo e assim o deixaremos; somos todos iguais. E como não levaremos nada desse mundo, é um dever contribuir em vida para o bem-estar do próximo. Não estou falando de caridade apenas, mas de dar ferramentas e oportunidades para a construção da autonomia e dignidade das pessoas.
Minha vida se mescla entre o trabalho e a espiritualidade. Quando me perguntam a razão da filantropia, respondo com mais indagações.
Meu pai me ensinou o caminho, e, depois que ele faleceu, comecei a me perguntar: Por que nascemos? Por que estamos vivos? A vida precisa ser viva e não morta; ela precisa ter significado e conteúdo. Passar uma vida sem descobrir o nosso propósito é uma tristeza.
Por esse caminho de questionamentos constantes – “Qual é o propósito da vida? Para onde se vai na vida? A alma é eterna?” –, vou me desprendendo do materialismo e dando sentido espiritual à vida. O dinheiro egoísta é aquele que é guardado só para si. A caridade ou a filantropia são iguais e têm o mesmo valor, e o importante é fazer. Sou capitalista para ganhar dinheiro e socialista para dividir o que ganho com quem precisa. A única coisa que você leva dessa vida é o bem que você fez, portanto não é preciso esperar a morte para depois doar.
São dois princípios que me norteiam:
1. Por acreditar em Deus, procuro me comportar de maneira ética e ser honesto sempre. E imagino que a primeira pergunta que nos será feita, quando deixarmos este mundo físico, é se fomos honestos com as pessoas e no trabalho. É um assunto de consciência entre o indivíduo e Deus.
2. Procuro usar o tempo com sabedoria para cumprir ao máximo a missão que me foi dada. Ter posses significa não perder de vista que a riqueza não lhe pertence, e que ela foi posta em suas mãos para você ser um fiel depositário.
Quando o pobre estende a mão, o rico está lhe devolvendo o que lhe é de direito. Aquele que percebe isso jamais se torna orgulhoso ou escorrega na vaidade. Quem não puder ajudar com dinheiro, que dê um sorriso, uma palavra encorajadora ou um consolo.
Quero tentar influenciar o maior número de pessoas a encontrar sua missão na vida por meio de uma causa que lhe fizer sentido e tocar o coração. São centenas de projetos diferentes que apoio há anos e outros a que vou aderindo. A ponte do bem é infinita e se reflete em cada instituição e ONG aqui escolhidas como exemplos dessa missão.
ARQUIVO BJ