Alguns setores do mercado acham que Lula vai fazer o que precisa ser feito na economia para tentar recuperar um mínimo de confiança do setor privado e colocar o País na rota do crescimento a partir de 2018.

Partidários desta tese acham que o ex-Presidente não precisa consertar toda a economia; o mero encaminhamento de algumas reformas essenciais já enxertaria otimismo nos mercados, particularmente dada a expectativa (zero) de que o Governo Dilma consiga fazer alguma coisa nos anos que lhe restam.

“A única opção que resta é ele fazer o inesperado, o impensável,” diz um investidor adepto da tese.

Lula

Mas por que Lula faria isso? Primeiro porque ele viu, na prática, como a manutenção do tripé econômico herdado de Fernando Henrique — metas de inflação, disciplina fiscal e câmbio flutuante — ajudou seu primeiro mandato a entregar crescimento (com aquele empurrão providencial do ciclo de commodities). Segundo, porque ele entende que só um choque de expectativas pode minimizar — senão reverter — a espiral de apatia e desconfiança que tomou conta do País com o tripé petista: recessão, inflação e Lava Jato.

Apesar do modesto rali desta tarde, a hipótese do ‘Lula racional’ não está nos preços dos ativos. O rumor de que Lula poderia convidar Henrique Meirelles para assumir o Banco Central circulava entre consultores políticos de Brasilia desde ontem à noite.  No final desta manhã, começou a circular na imprensa, e a Bovespa e o câmbio mudaram de direção, ajudados também pelo Fed, que jogou para escanteio a alta de juros.

Esta narrativa sobre a estratégia de Lula é diametralmente oposta à que circulava na manhã de quarta-feira, segundo a qual Lula, agora instalado na Casa Civil, promoveria uma ‘guinada à esquerda’, focando em estimular a economia por meio de mais crédito e subsídios. De resto, o Governo passou o dia desmentindo esta versão.

A trajetória do ex-Presidente mostra que ele é capaz — ou melhor dizendo, tem o costume — de dizer o que cada plateia deseja ouvir.

Neste sentido, é possível que a tese da guinada à esquerda seja apenas um discurso para a base do PT, enquanto o pragmatismo econômico se impõe, na visão de Lula, como a única estratégia de sobrevivência política para o que resta do Partido.

Para alguns advogados deste cenário, Meirelles poderia ser mais útil na Fazenda, onde poderia dar seguimento ao programa de concessões e ter uma interface diária com o empresariado, em vez de presidir de novo o BC.

A cereja no bolo da tese, segundo seus partidários, é que, se tudo der certo, Meirelles poderia se viabilizar como o candidato do espólio petista na eleição de 2018.

“O Brasil está muito louco para se fazer qualquer tipo de previsão, até porque tem um monte de coisas que não estão sob o controle dos políticos, mas você tem que reconhecer que haveria uma lógica se tudo isso acontecesse,” diz outro investidor. “Isso é tudo o que o PT é contra?  Sem dúvida, mas o Lula é o Lula: dane-se o Partido.”