A Aliant e a Be Compliance acabam de anunciar uma fusão para criar um “ERP do compliance” no Brasil.

Enquanto a Aliant é a líder em canais de denúncias de empresas no Brasil, a Be Compliance criou um software voltado para o mundo do compliance, contemplando módulos de auditorias, gestão de políticas e procedimentos e conflitos de interesse.

“É a união de quem investiga com quem busca a prevenção,” Fernando Fleider, o CEO da ICTS, que controla a Aliant, disse ao Brazil Journal.

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O novo grupo nasce com 300 colaboradores e mais de 5 mil clientes em 70 países e mira R$ 100 milhões de receita recorrente até 2026 – a empresa não abre o faturamento atual. Até o fim do ano, no entanto, as empresas seguirão sendo tocadas de maneira independente.

A ideia é se tornar uma espécie de “ERP do compliance”, disse Cyro Diehl, o CEO da Be Compliance.

“Assim como um ERP integra contas a pagar e a receber, a nossa plataforma integra todos os pilares do compliance: o canal de denúncias, privacidade, riscos, auditorias e ESG, além da investigação.” 

Segundo Cyro, a Be Compliance também criou um EAD corporativo, com cerca de 60 treinamentos prontos, incluindo compliance regulatório, LGPD, políticas internas, riscos, conflitos de interesse, entre outros.

Além dos cursos, a empresa desenvolveu uma ferramenta de inteligência artificial que permite aos funcionários dos clientes pesquisar mais facilmente as políticas da empresa.tec

“Um colaborador pode perguntar, por exemplo, qual a despesa que ele pode ter em um almoço corporativo ou se ele pode receber presentes de um cliente. A nossa AI lê os documentos da empresa e responde para ele na mesma hora,” disse.

Já a Aliant trabalha para investigar problemas – ou identificar potenciais inconvenientes. Além de gerenciar os canais de denúncias – com atendimento 24 horas – a Aliant também trabalha com o background check de pessoas físicas e jurídicas, além de testes de integridade.

Cyro disse que a empresa resultante da fusão deve capturar sinergias de receita já nos primeiros meses, especialmente com o cross-sell, porque não há sobreposição de serviços entre elas.

Por isso, a nova companhia enxerga um mercado endereçável de R$ 2 bilhões nos próximos anos, especialmente com a expansão das regulações e a necessidade crescente das empresas de se adequarem a normas de governança, integridade e controles internos.

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Hoje a maior parte do volume de denúncias recebidas e investigadas pela Aliant é de assédio, que representa 60% dos relatos. Casos de corrupção, por sua vez, mal chegam a 1%.

O executivo disse que as denúncias chegam por diversos meios (desde telefone até WhatsApp) e o sistema garante anonimato e rastreabilidade, evitando que a denúncia seja captada pela pessoa ou área acusada.

A partir daí, a Aliant faz toda a investigação para entender se as denúncias correspondem à verdade ou não.

“Chamamos de canal de acolhimento, não só de denúncia,” disse Fleider. “Porque a maior parte dos relatos é feita por pessoas que querem ser ouvidas e protegidas, não apenas apontar irregularidades.”

A Aliant faz parte do grupo ICTS, fundada a partir de um spin-off da empresa israelense homônima que se especializou em segurança aeroportuária.

Fleider, um dos primeiros funcionários da ICTS, fez um management buyout com outros sócios em 2005 e expandiu os negócios da empresa, que opera em quatro frentes: a consultoria de riscos e auditoria Protiviti; a ICTS Security, focada em segurança VIP e gestão patrimonial; a Nexora, que revende softwares de cybersecurity e auditoria; e a própria Aliant. Todos os negócios devem gerar cerca de R$ 150 milhões em receita neste ano.

Apesar da diversificação, Fleider enxerga o maior potencial no mercado de denúncias.

Há um movimento de expansão global. Em julho, o Goldman Sachs Alternatives, um braço de private equity do banco, liderou um consórcio que adquiriu uma participação majoritária na NAVEX, uma das maiores empresas do setor. Entre os investidores está a Blackstone.

“Com a fusão, estamos seguindo um caminho semelhante ao de grandes consolidadores globais. Acreditamos que esse movimento vai acontecer também no Brasil, e queremos estar na dianteira,” disse Fleider.