A alta dos preços na Ponte Aérea com o fim das operações da Avianca produziu um efeito colateral bizarro: viajar de avião particular ficou relativamente acessível.
A Avianca costumava fazer promoções de última hora – exatamente o oposto da dinâmica de precificação do setor, em que os bilhetes ficam mais caros com a proximidade do embarque.
Com um player a menos no mercado, hoje quem precisa voar no mesmo dia ou no dia seguinte dificilmente desembolsa menos de R$ 1 mil o trecho.
Mas em vez de decolar de Congonhas com LATAM ou Gol, alguns passageiros preferem o conforto de um King Air, o equipamento que a Flapper usa na sua ponte aérea. O trecho custa R$ 950, com tarifas e bagagem incluída — mas tem que topar descer no Aeroporto de Jacarepaguá, que apesar do nome fica na Barra.
A Flapper nasceu em 2016 como um marketplace para a aviação executiva: vendendo fretamentos para operadoras de táxi aéreo e também assentos unitários nas “empty legs”. (Os voos em que o piloto volta sozinho para a base depois de realizar um serviço.)
Na época, surgiram vários concorrentes, mas só a Flapper e a Voom seguem no jogo. (A CloudTaxi deixou de atualizar seu app em 2017.)
Com o tempo, a Flapper passou a vender assentos unitários em rotas pré-agendadas, assumindo para si o risco de vacância. É o caso da ponte aérea ligando São Paulo à Barra da Tijuca – operada pela Uniair (táxi aéreo da Unimed), com voos ida e volta às sextas e às segundas, em um King Air B200GT (com capacidade para 7 lugares).
Há também voos entre São Paulo e Angra, saindo do Campo de Marte às sextas e aos domingos, a bordo de um Cessna Grand Caravan (9 lugares) operado pela Two Aviation.
Na alta temporada, Paraty entra na rota dos voos compartilhados. E nos feriados, a oferta inclui destinos como Ilhabela e Jericoacoara. No último réveillon, foram 15 voos entre Fortaleza e Jeri.
(A inteligência de dados gerada com o uso do app também rende receitas ancilares: é compartilhada com algumas empresas que estão investindo no desenvolvimento de VTOLs – vertical takeoff and landing – como solução de mobilidade urbana.)
O CEO da Flapper é um polonês que vive há cinco anos no Brasil, e o fundador e CTO, russo. Arthur Virzin veio para o Brasil ainda criança. É engenheiro, especializado em machine learning.
Formado em administração e economia, Paul é o cara do marketing e do business. Veio para o Brasil para ser o CMO da EasyTaxi, depois de atuar como country manager da startup brasileira nas Filipinas.
Foi convidado para olhar o business plan da Flapper – originalmente focado em fretamento de limousines – e gostou: entrou de anjo logo nos primeiros meses e ficou.
A Flapper já levantou R$ 3 milhões em seed money em uma rodada liderada pelo fundo Aerotec, especializado em startups do setor aeroespacial e administrado pela gestora mineira Confrapar.
Agora, a empresa está em meio a uma rodada Série A. Paul não revela quanto pretende captar, mas diz que já assegurou 50% com VCs brasileiros. “O resto vai ser fora do Brasil pois é um desafio muito grande captar aqui.”
A nova rodada deve financiar a expansão da empresa para a América Latina – além de investimentos em tecnologia.
Até o fim do ano, a Flapper vai introduzir mais uma modalidade de voo: o fretamento com assento e risco compartilhado. Qualquer pessoa vai poder abrir um voo no sistema – assumindo o risco se a demanda não se concretizar. “O cliente vai poder escolher o tamanho do risco que quer tomar: até quanto ele está disposto a pagar para o voo ser realizado.“
Hoje a Flapper transporta cerca de 500 passageiros/mês. Paul diz que a receita bruta dobrou no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado – e está a caminho de atingir R$ 1 milhão/mês. “Ainda demora pra atingir o breakeven.”
A crise da Avianca fez a procura pela rota CGH-JCP aumentar 80%. E, com o fechamento previsto para o Santos Dumont no segundo semestre, a empresa deve adicionar vôos às terças e quintas a partir de setembro.
Na foto acima, o turbo-hélice Caravan Grand, usado pela Flapper nos voos semanais para Angra dos Reis.