Bazinho Ferraz viu muita coisa nos quase 10 anos em que foi sócio do Grupo ABC, mas, ao embarcar na criação de sua própria rede de agências, as lições que ficaram foram especialmente sobre o que não fazer.
“Não quero ficar comprando EBITDA, nem tirar ninguém do negócio, nem tampouco ter negócios que competem entre si,” diz o CEO da BFerraz, que chegou a ter 13% do ABC, fundado por Nizan Guanaes.
Ao sair da sociedade, em novembro de 2015 – uma semana antes do ABC ser vendido para o Omnicom – Bazinho recomprou 100% da BFerraz e retomou as rédeas da operação da agência.
No ano passado, ele reservou R$ 20 milhões de capital próprio para criar a The B Network, comprando participações em agências inovadoras. Quando todo o investimento estiver alocado, ele pretende atrair fundos e formar um clube de investidores para seguir expandindo a rede.
Bazinho acaba de comprar uma participação minoritária na New Vegas – a agência de Ian Black que nasceu fazendo digital e social media e hoje já tem 50 funcionários – e na ABlab – uma agência de performance digital criada pelo pernambucano Hugo Collier, com 30 funcionários.
As duas se somam à Just A Little Data e à Eixo, adquiridas ano passado. Uma quinta aquisição deve ser fechada nas próximas semanas.
A inspiração da The B Network é a S4, a rede que Martin Sorrell está montando em sua vida pós-WPP e que foca em startups de comunicação inovadoras e intensivas em tecnologia. Sorrell reservou US$ 50 milhões de capital próprio e já anunciou que quer captar US$ 1,3 bilhão para novas aquisições.
“Houve uma saturação no modelo de grandes conglomerados de comunicação, de comprar volume, EBITDA, faturamento, contas. Esses grupos ficaram muito centrados na própria dinâmica e acabaram perdendo o foco no cliente,” diz Bob Wollheim, que foi executivo no ABC e hoje é sócio de Bazinho na The B Network.
Num segundo momento, o plano também prevê a aquisição de controle de agências – ainda que os sócios prefiram falar em uma atitude “mais potencializadora do que controladora”.
Os investimentos também são direcionados para a expansão da BFerraz, que já tem escritórios em Miami, México e Buenos Aires e no interior do Brasil. (A empresa já comprou a Just Live, de Campinas, e duas agências no Sul.)
Bazinho começou a carreira promovendo festas em mansões vazias no Morumbi, nos final dos anos 80. Chegou a comandar três boates antes de criar a BFerraz em 1999, quando resolveu direcionar seu talento de promoter para realizar eventos e ações promocionais para marcas.
Os trabalhos vão desde o famoso Natal do Bradesco no Palácio Avenida em Curitiba a festivais de música como o Planeta Terra e ativações de patrocínio como o Skol Live House, dentro do Parque Olímpico no Rio de Janeiro.
Vinte anos depois, a agência segue realizando eventos, ativações e ações de live marketing – mas de forma cada vez interativa e integrada ao universo digital, com o uso de pulseiras de pagamento (que permitem coletar dados de deslocamento e consumo) e ações promocionais pelo celular.
Dentro da holding ABC, a BFerraz não chegou a dar prejuízo, mas tampouco floresceu. Bazinho deixou a operação para se dedicar a outros ventures, como a XYZ Live, um spinoff do ABC voltado para a realização de eventos, concorrendo com a Time for Fun. A empresa chegou a ter 150 funcionários e viu frustrada sua intenção de atrair um sócio investidor disposto a pagar R$ 150 milhões por 30% do negócio.
De volta ao comando de seu fundador, a BFerraz parece ir melhor. Bazinho diz que a empresa bateu recorde de lucro e faturamento em 2017 e 2018, mas não abre os números.