Com o quadro fiscal do Governo Lula mantendo os juros altos — e subindo — empresários e a Faria Lima esperam uma desaceleração da economia nos próximos meses.

Para o BTG Pactual, os primeiros sinais deste slowdown podem estar no mercado de aço, que apresentou uma queda forte em dezembro.

A partir de dados do Instituto Brasileiro do Aço (IABr), os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi calculam que, apesar de ter subido 11% em 2024, a demanda aparente por aço recuou 7% em dezembro (em relação ao mesmo mês de 2023) e 16% se comparado ao mês imediatamente anterior.

A demanda aparente, que é basicamente um termômetro do consumo doméstico, é a soma da produção local e da importação do produto, subtraindo-se o que foi exportado.

O número de dezembro foi fortemente influenciado pela queda na importação do metal no mês. Em que pese o avanço de 18% no ano, a entrada de aço estrangeiro no Brasil caiu 16% ante novembro e 37% em relação a dezembro do ano anterior.

Esse ponto específico não é exatamente uma má notícia, já que o mercado local sofre com uma inundação de aço chinês – algo que não deve mudar, a menos que o governo crie mais medidas protecionistas.

Em outras palavras, o dado ruim é ruim, e o bom não anima muito.

O grande debate agora é se a queda da demanda aparente é pontual, também tendo em conta a sazonalidade do dado, ou o início de uma tendência mais forte, Correa disse ao Brazil Journal.

As vendas domésticas ainda exibem sinais menos claros. Houve queda de 15% em dezembro em relação a novembro, mas alta de 4% na comparação com dezembro do ano anterior e de 9% no ano.

“A quantidade de aço que as empresas estão vendendo hoje reflete a expectativa para as indústrias e para a economia como um todo nos próximos meses,” disse. 

Por ser utilizado em várias cadeias produtivas do País, como o setor automotivo, a construção civil e a linha branca, o aço é muito sensível economicamente — e segmentos tão intensivos em capital dificilmente passam incólumes por uma Selic tão elevada.

A queda de 1,1% na expedição de papel ondulado em relação a dezembro de 2023, segundo prévia da Associação Brasileira de Embalagens de Papel (Empapel), pode ser outro sinal embrionário de desaceleração, disse Correa. O material é muito utilizado no transporte de bens de consumo e duráveis. 

Pessimista com o mercado de aço global, dado o excesso de oferta chinesa e a consequente falta de pricing power, o BTG recomenda aos clientes participar do setor comprando Gerdau. 

A empresa “tem maior exposição a aços longos no Brasil, que são menos afetados pela penetração de importações em comparação a aços planos; e combina uma maior exposição à indústria siderúrgica dos EUA, que deve se beneficiar da agenda tarifária de Trump.”