Presidente Dilma: Dilma Rousseff 

Das ruas da Savassi em Belo Horizonte às lojinhas de Ipanema, da rua Brás em Belém ao comércio nos Jardins, o único negócio que prospera no País é a fabricação das placas ALUGA-SE e VENDE-SE.

No mercado de trabalho, 1,5 milhão de vagas desapareceram nos últimos 12 meses, e os jovens que deixam a universidade ou cursos técnicos terão cada vez mais dificuldade de encontrar emprego.

Os empresários dividem-se hoje entre os desolados e os desesperados, o real se aviltou frente ao dólar, o PIB atravessa uma recessão inédita, e o Governo mal tem dinheiro para pagar as contas.

E, acredite, as coisas ainda vão piorar.

Nos próximos meses, a crise econômica e os desdobramentos imponderáveis da Lava Jato vão minar ainda mais a governabilidade. Na sociedade, há consenso de que seu governo — agora iniciando seu sexto ano — é o engenheiro da depressão na economia, da ressurreição da inflação e da epidemia do desemprego. Um governo que quebrou a Petrobras , pôs a perder anos de estabilidade, enfraqueceu o Tesouro e a capacidade do brasileiro de honrar suas prestações — e de sonhar. Sem falar na privatização do Estado para fins partidários (esta sim, a única que a senhora permitiu).

O seu é um governo sem poder, sem ideias, com um fetiche pelo Estado grande e incapaz de entender o funcionamento básico da economia: incentivos, risco e livre iniciativa.

É um governo que, não propondo nada de novo, insiste em reeditar ideias que o tempo e a experiência já aposentaram por invalidez.

É um governo que perde o tempo do Brasil — um tempo que o Brasil não tem a perder.

É neste ambiente — em meio ao clamor das ruas, ao empobrecimento geral e a investigações criminais — que as instituições do país, do TSE ao TCU, do Congresso ao STF, decidirão se a senhora pode (ou deve) ser removida do cargo mais alto da Nação, seja pela impugnação de sua eleição ou por um processo de impeachment.

Adiante-se a eles, Presidente, e renuncie.

Se a senhora tiver algum apreço pelas conquistas sociais das quais seu partido tanto se orgulha (e que já estão ameaçadas), a senhora deveria renunciar.

revista-veja-edico-extra-dilma-rousseff-novembro-2010-17696-MLB20141753382_082014-F Se a senhora tiver visão política para além dos poucos anos de mandato que lhe restam, e se colocar o País à frente de interesses pessoais e partidários, a senhora vai renunciar.

É verdade que a senhora ganhou a eleição. Mas também é verdade que metade dos brasileiros, por entenderem pouco de economia, não atentaram para a bomba-relógio armada em seu primeiro mandato. Foram enganados. Também é verdade que sua campanha acusou adversários de pretender fazer um ajuste doloroso que, hoje, seu próprio Governo é obrigado a fazer pela força das circunstâncias. E, finalmente, há indícios cada vez mais fortes de que sua campanha foi maculada por dinheiro oriundo de esquemas de corrupção.

Tudo indica que a senhora não se locupletou com o cargo, não enriqueceu ao longo da vida pública nem sentiu necessidade de abrir contas inexplicáveis na Suíça. Mas nem sua honestidade (uma obrigação, antes de mais nada) nem sua ‘vontade de acertar’ a eximem de responsabilidade pelo drama econômico que enfrentamos agora.

A palavra ‘renúncia’ pode ser sinônimo de desistência, derrota. Mas também pode ser ‘abrir mão’ de algo em nome de um bem maior. Sua renúncia — antes que o processo de impeachment fatalmente tome fôlego, alimentado pela crise e pelos fatos da Lava Jato — seria sua maior demonstração de força pessoal e política, revelando uma Presidente que pensa no País antes de pensar em si.

Mostre que isso é verdade, Presidente, e condicione sua renúncia à aprovação (célere!) de uma profunda reforma política, que acabe com o voto obrigatório, diminua o tamanho do Congresso e imponha limites aos mandatos, acabando com a política como profissão. Mais: condicione sua saída à aprovação pelo Congresso das 10 medidas contra a corrupção e a impunidade propostas pelo Ministerio Público Federal.

Presidente, a economia não vai simplesmente ‘mal’. Empresários septuagenários têm dito que esta é a pior crise da qual se lembram, e por uma questão simples: antes de ser econômica, esta é uma cavalar crise de confiança.

dilma_veja Cabe à senhora julgar se seu Governo tem condições de dar ao País a estabilidade e a confiança para que voltem o investimento e os empregos, e a força política necessária para fazer reformas tão impopulares quanto essenciais para que o Brasil evite a falência. (Reformas nas quais a senhora não acredita, aliás.) De que vale a legitimidade do mandato se ao ator político faltam apoio e eficácia?

Cabe à senhora decidir se é melhor um ‘fim horrível’ — que pode ser também um recomeço — ou um horror sem fim.

Na semana passada a senhora invocou a tortura que sofreu na ditadura, algo que não costuma fazer gratuitamente. Aquele foi um tempo sombrio, de vergonha e infâmia para o Estado brasileiro, e todos os relatos são de que, submetida à barbárie, a senhora demonstrou coragem.

Felizmente, não estamos em 1964. O Brasil hoje é um país muito mais democrático, complexo e plural. Suas instituições estão sadias e em pleno funcionamento, ao contrário do Estado de exceção em que Sobral Pinto precisava da lei de proteção aos animais para defender prisioneiros políticos.

A coragem necessária nos dias de hoje é de uma outra natureza. Não se entrincheire, presidente. Não veja os eventos de hoje como uma ‘conspiração das elites’. Essa narrativa é tão intelectualmente pobre e vergonhosamente fantasiosa quanto as ideias por trás da Nova Matriz Econômica. Reconheça que o momento nacional é maior do que a senhora, que o País está mudando para melhor, que a sociedade civil está mais viva e vigilante, e que somos — todos — ao mesmo tempo partícipes e reféns deste turbilhão.

Bata no peito, faça o mea culpa e permita que o País siga em frente. A história lhe homenageará por este gesto.

Nosso longo pesadelo nacional pode estar perto do fim se, no seu coração, residir alguma lasca de humildade, temperança e espírito republicano.