Numa carta aos clientes publicada agora há pouco, a Atmos Capital falou sobre os desafios do Brasil e como ela está posicionada para surfar um cenário de juros altos e dívida crescente.

“No Brasil, carrego é construção e sobreviver é mais importante do que arriscar desnecessariamente. O objetivo não é ser genial, mas evitar ser estúpido,” escreveu a gestora de ações, com R$ 14,5 bilhões em ativos sob gestão, dizendo que sua carteira “reflete esses princípios, quase como mandamentos.”

Seguindo esse mantra, a Atmos está com cerca de 40% do patrimônio do fundo investido em empresas de utilidades públicas. 

Outros 20% estão em empresas de alto crescimento e o restante no que a gestora chama de “líderes bem posicionadas.”

A Atmos disse que as utilities oferecem “carrego elevado por conta das altas taxas de juros, um prêmio de equity que raramente se viu e a opcionalidade de serem as poucas companhias capazes de alocar capital produtivo em um país carente de investimento.” 

“São negócios que combinam governança, capital e capacidade de execução, atributos escassos quando o setor público consome quase todos os recursos em despesas correntes,” diz a carta.

Nessa vertical, as principais posições da Atmos são Equatorial, Eletrobras, Auren, Eneva, Copel, Motiva e Compass. 

A gestora nota que essas companhias raramente figuram entre as maiores altas anuais da Bolsa, mas em janelas longas elas costumam aparecer entre as vencedoras. “As principais posições da carteira não são as que mais podem subir em um ciclo otimista, e sim as que melhor equilibram o potencial de valorização e proteção em momentos adversos.”

Já no grupo das empresas de alto crescimento, a principal posição é o Nubank. A Atmos disse que tem mantido posição na empresa pela “qualidade estrutural e pela densidade de talento incomum no país, aliada a consistência do produto, aquisição orgânica de clientes, baixo custo de servir e exposição ao pool de lucros mais relevante da região: o crédito, produto de consumo mais cobiçado da economia.”

Por outro lado, a gestora reduziu de forma significativa a sua exposição ao Mercado Livre, basicamente por conta do valuation. “Embora líder consolidado [do setor] por méritos próprios, [o Mercado Livre] negocia a um valor de mercado que tolera poucas surpresas negativas,” diz a carta. 

A Atmos também reduziu recentemente sua posição nas ações internacionais, que tiveram um peso relevante no portfólio nos últimos anos. A redução teve a ver com a maior atratividade relativa do Brasil e com a diminuição da margem de segurança nos mercados internacionais. 

Por fim, no grupo das empresas “líderes bem posicionadas” as principais posições da Atmos são Localiza, Stone, XP, Rede D’Or, Smart Fit e Grupo Salta — “empresas com estrutura sólida, vantagens competitivas claras e capacidade de atravessar ciclos preservando valor.”

A Atmos encerra a carta com uma reflexão precisa sobre a tarefa de se investir em ações no Brasil, que “não é simples.”

“As janelas longas, muitas vezes torturantes, afastaram boa parte dos investidores dessa classe de ativos. Ainda assim, ou talvez justamente por isso, a recompensa continua atraente. Como disse Jerry Seinfeld, ‘The blessing in life is when you find the torture you’re comfortable with. That’s marriage, it’s kids, it’s work, it’s exercise. Find the torture you’re comfortable with and you’ll do well. You’ve mastered that, you’ve mastered life,’”, diz a carta. 

“Investir é aceitar o desconforto certo, seguir sem sucumbir e nunca morrer no meio da travessia. No fim, não se trata de vencer o mercado, mas de atravessar o tempo com ele e chegar do outro lado inteiro.”