O PIB do segundo trimestre veio em linha com as estimativas mais otimistas – batendo com folga o consenso do mercado e colocando em viés de alta o desempenho da economia em 2024.
O IBGE disse hoje que o PIB avançou 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano, acima da mediana das expectativas, de 0,9%.
A indústria, com um crescimento de 1,8%, foi o destaque positivo pelo lado da produção. Os serviços tiveram um avanço de 1%, enquanto o agro caiu 2,3%, dentro do esperado.
Pelo lado da despesa, os números mostram a continuidade na retomada dos investimentos no aumento da capacidade instalada e na construção civil. A chamada formação bruta de capital fixo subiu 2,1%.
O consumo das famílias teve um aumento de 1,3%, a mesma variação registrada nas despesas do setor público.
Alberto Ramos, o chefe de pesquisa econômica para América Latina da Goldman Sachs, notou que o avanço no trimestre veio acima da tendência, indicando um crescimento acima do potencial – mais um fator forçando o Banco Central a subir a Selic.
“Os números muito fortes da demanda aumentam significativamente a probabilidade de um aumento da Selic na reunião de setembro do Copom,” disse o economista.
Na avaliação de Ramos, houve uma deterioração da inflação, o mercado de trabalho está apertado, e as políticas fiscais e ‘quasi-fiscais’ são “claramente expansionistas e pró-cíclicas.”
Ramos elevou sua estimativa para o PIB no ano de 2,5% para 3%.
O BTG também elevou sua projeção para o ano, de 2,4% para 2,7%.
“Puxado pelo forte estímulo fiscal e aceleração no crédito, o PIB mostrou um trimestre de crescimento robusto,” disse o economista Bruno Martins.
O Bradesco observou que mesmo que a economia fique parada no segundo semestre o crescimento no ano ficará em 2,5%, por causa do carrego estatístico.
“Mantendo nossas estimativas para o terceiro e quarto trimestres, que deverão ser revisadas em breve, nossa projeção para o PIB do ano aumenta de 2,3% para 2,6%,” disse o banco.
O Itaú destacou que o aumento da renda das famílias e a boa situação do mercado de trabalho, ao lado da expansão do crédito, têm contribuído para o avanço do PIB — mas não mexeu na estimativa para o ano.
“Projetamos um crescimento do PIB de 2,5% em 2024 levando em conta alguma desaceleração ao longo do segundo semestre do ano, com menos estímulos fiscais e menor ajuda do ciclo de crédito,” afirmou o time de macro do banco. “Ainda assim, reconhecemos que há um viés de alta para nossa projeção de PIB do ano.”
O Citi comentou que pelo quarto ano consecutivo o crescimento da economia deverá fechar o ano acima das estimativas iniciais.
“Elevamos nossa estimativa para 3%, tendo a demanda doméstica como o principal driver,” disse a equipe de macro do banco, comandada pelo economista Leonardo Porto.
Para o Citi, é hora de o BC apertar os juros. O banco espera o início de um ciclo de alta da Selic em setembro, com alta de 0,25% em cada uma das quatro próximas reuniões do Copom.
O eventual aumento da Selic deverá ocorrer na contramão do que se espera para os juros nos EUA.
Números fracos da indústria e do setor imobiliário americano, divulgados hoje, elevou de 30% para 39% a probabilidade de que o Federal Reserve corte os juros em 0,5 ponto percentual, de acordo com a precificação na curva de juros.
O economista David Beker, do Bank of America, manteve a sua estimativa de 2,7% para o crescimento brasileiro neste ano, mas colou um viés de alta na projeção.
“A surpresa despeito dos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul é um sinal positivo, porque os efeitos do desastre deverão se concentrar nesse trimestre” afirmou Beker.
O Inter elevou a sua estimativa de 2,5% para 2,9%. “O crescimento mais acelerado, impulsionado pela forte expansão fiscal, não é sustentável considerando a limitação pelo lado da oferta e ainda baixa taxa de investimento da economia,” disse Rafaela Vitoria, a economista-chefe do banco.
Rafaela salientou que o crescente déficit fiscal e o consequente elevado patamar de juros contribuem para uma “aceleração preocupante” da dívida pública. “É necessária uma revisão das políticas públicas e uma maior harmonia entre a política fiscal e monetária,” disse a economista.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado mostrou um resultado que superou os reveses das enchentes no Rio Grande do Sul.
“A surpresa bastante positiva indica crescimento mais forte que o esperado, o que eleva nossa projeção do PIB de 2024 para algo entre 3% e 3,5%, ante a previsão anterior de 2,5%)”, disse Costa. “Projetamos 1,5% para 2025, com viés de alta.”
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirmou que o resultado, além de expressivo, foi positivo em sua composição, porque a parte ‘cíclica’ – que considera as atividades mais sensíveis ao ciclo econômico – avançou mais rapidamente do que a parte – os os componentes mais ‘exógenos.’
“É o segundo trimestre consecutivo em que o PIB ‘cíclico’ sobe acima do ‘acíclico’. Isso é uma inversão completa do que foi observado ao longo dos quatro trimestres do ano passado e corrobora a ideia de um crescimento mais saudável neste ano,” comentou Leal.
O economista elevou sua estimativa para o ano de 2,5% para 2,7%, “com possível viés de alta, caso a atividade não apresente acomodação no segundo semestre.”