A Asics nunca vendeu tanto como agora em todo o mundo – graças em boa parte aos “tênis de tiozão”.
Resultado: nos últimos dois anos, o preço da sua ação mais do que triplicou, e a companhia japonesa agora vale US$ 11,5 bilhões na Bolsa.
Os acionistas têm que agradecer aos “daddy shoes” – aqueles tênis de corrida ou caminhada que eram comuns nos anos 90, com gel aparente no solado e visual retrô – que nos últimos anos tem ganhado cada vez mais espaço no mundo da moda.
Com os jovens de hoje curtindo reviver a moda dos anos 90 e 2000, marcas como a Asics e a New Balance estão ganhando tração. A pandemia também ajudou na adoção de roupas mais confortáveis, seja em momentos de trabalho ou lazer.
Também ajuda o fato de celebridades terem aparecido publicamente calçando esses tênis, como a modelo Hailey Bieber (casada com Justin Bieber).
“Sempre fomos muito fortes com um público de corredores entre 40 a 50 anos, mas fizemos algumas mudanças a partir de 2018: contratamos designers e fomos atrás da geração mais jovem,” o presidente global da Asics, Mitsuyuki Tominaga, disse ao Brazil Journal.
Deu certo. Um dos tênis mais vendidos pela companhia é o antigo Kayano 14 – criado há 17 anos para maratonistas e relançado no ano passado com foco na Geração Z (não mais como um tênis de corrida).
Detalhe: as margens desses modelos são bem maiores que as dos tênis de corrida, já que não precisam de tanta tecnologia embarcada.
O StockX – o principal marketplace de tênis dos Estados Unidos – publicou um relatório recentemente apontando a Asics como a marca com o maior crescimento dentro da plataforma no primeiro semestre – “apenas” 600% acima do ano anterior.
Os principais tênis vendidos? Os de tiozão.
Isso tem encorpado as vendas da divisão de Sportstyle da Asics. Em 2023, a Asics vendeu cerca de 59 bilhões de ienes (US$ 400 milhões) – uma alta de 36% na comparação com o ano anterior.
No primeiro tri, acelerou ainda mais: alta de 53% em comparação ao mesmo período de 2023.
A área de Sportstyle agora representa quase 13% das vendas da companhia – em 2018, era praticamente zero.
Isso não quer dizer que os calçados voltados para performance não estejam em um bom momento: a venda de tênis de corrida e os esportivos (para praticantes de tênis e futebol, por exemplo) cresceram 13% e 9%, respectivamente, no primeiro tri.
Além do crescimento, o que vem chamando a atenção dos investidores é a rentabilidade da companhia como um todo.
A estratégia da Asics nos últimos anos tem sido focar nos tênis premium – que custam mais de R$ 1 mil no Brasil – e os consumidores têm comprado a ideia (e os calçados).
De janeiro a março, a margem bruta da Asics no mundo subiu 24,1%, e a operacional disparou 52,9%. A tendência, segundo o CEO, é que vendas e margens continuem crescendo.
Um dos mercados que vão puxar essa expansão será a América Latina – especialmente o Brasil.
Segundo Tominaga, apesar de representar apenas 5% das vendas, o potencial aqui é enorme.
Não por acaso, a empresa vai praticamente quadruplicar sua operação de varejo na região. As 16 lojas de hoje devem virar 80 nos próximos três anos.
Quem está no comando dessa expansão é o CEO Alexandre Fiorati, que toca a operação desde 2020.
Segundo ele, o foco do crescimento vai ser no Chile, Colômbia, Argentina e Peru. Hoje, o Brasil tem 16 das 23 lojas na região, e receberá um número ainda não especificado de novas lojas.
A ideia também é aumentar a penetração do ecommerce. No Brasil, a participação das vendas online é de 10%, enquanto no global já está em 18%.
Parte do esforço da Asics por aqui é escalar seu programa de cashback, iniciado há três anos. Hoje um cliente pode ter até 25% do dinheiro de volta ao fazer uma compra no site da companhia – mas um crédito que só pode ser utilizado no próprio site.
“Localmente, a nossa jornada está muito focada no programa de loyalty, para que o consumidor esteja conectado em todos os momentos com a gente,” disse Fiorati.
Uma dessas conexões é feita através de provas de corrida de rua.
A Asics participa de 28 provas por ano, entre próprias e patrocinadas, na América Latina. A ideia é ampliar esse número, especialmente a da Golden Run, prova que já é organizada pela Asics há anos.
Desde o início de 2022, quando os resultados da nova estratégia passaram a ficar mais evidentes, o market cap da Asics triplicou. Nos últimos 12 meses, mesmo com o recente colapso da bolsa japonesa, a ação da companhia dobrou.
Como comparação, Nike e Puma caem 32% e 44%, respectivamente. A Adidas, que vem passando por um turnaround nos últimos dois anos, sobe 21%.
A Asics aproveitou esse bom momento para fazer um follow-on no mês passado. Mais de 15 bancos japoneses, além de fundos e instituições japonesas, venderam cerca de 11% do capital.
“Com a oferta, nós quisemos buscar investidores globais que olhassem a nossa estratégia e investissem ainda mais na empresa,” disse Tominaga.