A Apple anunciou semana passada a mais nova integrante de seu conselho de administração: Susan Wagner, co-fundadora da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo com 4,5 trilhões (!) de dólares de dinheiro de clientes.
Além do sucesso profissional de Wagner, sua escolha teve a ver com a preocupação da Apple em aumentar a diversidade de seu conselho, onde até então havia apenas uma mulher e sete homens. O processo de renovação deve estar apenas começando: seis dos conselheiros da Apple têm mais de 63 anos de idade.
A composição do conselho pode ter impacto direto no sucesso das companhias. É nele que todo o planejamento estratégico da empresa é definido, e de lá saem as sugestões e críticas cruciais para o ajuste da operação no dia-a-dia.
No Brasil, o melhor exemplo de conselho diversificado — e completo, em termos das competências trazidas para a empresa — talvez seja o da Arezzo.
Apesar de seu negócio depender essencialmente do desejo feminino, a Arezzo é controlada de fato por dois homens: Anderson Birman, o fundador, e seu filho Alexandre, hoje presidente da empresa e seu cérebro criativo.
Mas os Birman se cercaram de um conselho amplamente reconhecido como de primeira linha, tanto pela participação feminina quanto pelas expertises complementares.
Uma das conselheiras é Juliana Rozenbaum, que trabalhou 13 anos como analista de empresas de consumo e varejo para grandes bancos de investimento. Além de saber comparar a estratégia e a performance da Arezzo com outros nomes do varejo, ela consegue dar à empresa a perspectiva do investidor profissional.
Outra conselheira é Carolina Faria, que já trabalhou em multinacionais como a Reckitt Benckiser, a Colgate-Palmolive e a Ambev, onde foi gerente de marketing. Faria costuma opinar principalmente sobre o posicionamento das quatro marcas da empresa: Arezzo, Schutz, Ana Capri e Alexandre Birman.
Completa o time Claudia Elisa Soares, ex-diretora financeira da Via Varejo (dona do Ponto Frio e das Casas Bahia) e ex-executiva sênior do Grupo Pão de Açúcar, além de ter trabalhado na Ambev, no antigo Banco Bozano, Simonsen e na Souza Cruz. Soares é a pessoa mais ouvida sobre temas como recursos humanos, remuneração de executivos e meritocracia.
“Fala-se em inteligência emocional e outras, mas é hora de incorporar aos negócios de forma definitiva a inteligência feminina,” diz Anderson Birman, que preside o conselho. “Escutar as mulheres é diferente de escutar os homens, e é isso que estamos tentando trazer para o negócio.”
Também fazem parte do grupo Fabio Hering, CEO da Hering (uma empresa que entende de moda e varejo, os dois assuntos mais sensíveis para a Arezzo), e Rodrigo Galindo, da Kroton, a maior empresa de educação do mundo depois de sua fusão com a Anhanguera.
“Há certos conselhos que, se em vez de receber para estar lá eu tivesse que pagar, eu pagaria, porque tem muita gente lá que vale a pena ouvir,” diz Guilherme Affonso Ferreira, outro conselheiro da empresa.
A montagem do conselho da Arezzo foi um movimento estudado, que em muitos aspectos só poderia sair da cabeça de Birman, um empresário tão obcecado pelo futuro que fez um plano estratégico chamado Arezzo 2154. (Em 2004, Birman ouviu um palestrante internacional falar sobre a baixa longevidade das empresas. Impôs-se o desafio de manter a Arezzo viva pelo menos por mais 150 anos: até 2154.)
“A composição de um conselho tem que ser dinâmica, e a Arezzo conseguiu isso,” diz um gestor que acompanha a empresa. “Ainda mais para uma empresa de moda, que tem que estar afinada com o que acontece na sociedade.”