Três anos atrás, André Albuquerque começou a estudar sobre o mercado de colágeno e se apaixonou a tal ponto que resolveu vender sua empresa — uma indústria que produzia alimentos e suplementos — e dar ‘all in’ na nova empreitada.

Investiu quase todo seu capital e colocou de pé uma pequena fábrica no interior de Minas Gerais, em Poços de Caldas, com capacidade para 1.200 toneladas por ano. 

“Era um setor com muita oportunidade, mas que precisava mudar o processo produtivo,” André disse ao Brazil Journal. “As indústrias tradicionais produziam o colágeno pela gelatina, que por sua vez é produzida com o couro bovino. O que eu vi é que daria para produzir o colágeno direto pelo couro, o que reduzia muito o custo e aumentava a qualidade do produto final.”

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O negócio deu certo, e André conseguiu criar um processo produtivo que custa 16% menos e gera, segundo ele, “o único colágeno do mundo com 98% de proteína e 99% de pureza.”  

Mas a fábrica acabou custando mais do que o empreendedor esperava e, no ano passado, ele teve que ir atrás de investidores. “Nesse processo, recebi uma proposta por 100% do negócio e acabei vendendo.”

Agora, André está tentando uma segunda chance com a mesma tese — mas desta vez, nos Estados Unidos. 

O empreendedor acaba de levantar US$ 41 milhões para sua nova empresa, a Nortian Biotech, numa rodada liderada pela AJ Hollander, a maior processadora de couro do mundo, e pelo XPTO, o family office de Guilherme Benchimol e dos outros controladores da XP. 

A captação — que avaliou a empresa em US$ 100 milhões (post-money) — também teve a participação da Integrated Proteins, uma fornecedora global de proteínas animais, e da Velvet Investments, uma gestora de VC americana. 

A rodada vai financiar a construção de uma fábrica de colágeno em Missouri, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, com uma escala 7x maior do que a fábrica que André tinha em Minas Gerais. 

O empreendedor disse que já começou as obras e que a expectativa é ligar as máquinas até abril. No primeiro ano, a fábrica terá uma capacidade de 7,2 mil toneladas por ano, que vai subir para 12 mil no segundo ano. 

(Para quem não sabe, o colágeno hidrolisado é basicamente um suplemento alimentar que ajuda na saúde da pele, das unhas, do cabelo e das articulações. Ele também tem sido usado como uma fonte de proteína, substituindo ou complementando o whey protein como um pré-treino.)

A escolha pelos Estados Unidos não foi bem uma escolha: quando vendeu sua primeira fábrica, André assinou um non-compete de cinco anos para toda a América Latina. Já a opção por Missouri foi estratégica: a maior parte dos abatedouros dos EUA estão em Missouri, Kansas e Nebraska. 

Hoje mais da metade do colágeno consumido nos EUA é importado, e há uma busca crescente das empresas americanas por alternativas locais para comprar suas matérias-primas, dada a guerra tarifária. 

O foco da Nortian será vender no B2B, atendendo marcas de suplementos, marcas de alimento e farmacêuticas que precisam da matéria-prima. André disse que já tem diversas conversas com potenciais compradores, mas que os contratos só poderão ser assinados depois que a fábrica estiver rodando. 

Segundo ele, a capacidade da fábrica já posiciona a Nortian como top 5 do mercado global, considerando apenas o colágeno hidrolisado. (Ele faz a ressalva porque todas as indústrias que produzem colágeno hoje também produzem gelatina, o que aumenta substancialmente seus volumes.)

O empreendedor disse que não pensa em produzir gelatina porque acha que existe um conflito de interesses em produzir os dois produtos juntos. “Quando você adiciona gelatina no processo produtivo você passa a ter um colágeno de menor qualidade. Não queremos ir pelo caminho só do volume. Queremos entregar produtos de altíssima qualidade.”

A rodada também teve a participação de Charles Krieck, CEO da KPMG na América do Sul; Beny Podlubny, da Blue Oak Investments; Gabriel Ferreira, fundador da Bold Snacks; e Patrick Schilte, fundador da True Source.