Um conteúdo

Reinaldo Fiorini e Marcus Frank
Enquanto líderes políticos mundiais discursavam na sede das Nações Unidas, na esquina da 1st Avenue com a 43rd Street, representantes do setor privado e do terceiro setor se espalharam por toda a cidade em reuniões menores para compartilhar experiências, discutir iniciativas e explorar oportunidades de negócios durante a Semana do Clima de Nova York (NYCW), que se encerra neste domingo.
Chegamos hoje de volta ao Brasil com uma mensagem clara da Semana: o foco deve estar em replicar o uso de soluções e negócios in the money para enfrentar o desafio climático, capazes de atrair investimentos em escala e gerar retorno financeiro.
O balanço surpreendeu positivamente. Apesar do momento geopolítico, tivemos uma edição em que as empresas confirmaram que seguem comprometidas (e putting their money where their mouth is) com a jornada de tornar seus negócios mais sustentáveis, ainda que muitas tenham optado, dado o contexto atual, por não divulgar tanto seus esforços.
Ao mesmo tempo, ficou evidente que não há um único ritmo global — desafios e avanços variam entre regiões e tecnologias. O Brasil, por sua vez, é um dos países que mais têm a ganhar com a transição energética, impulsionado por seus recursos naturais renováveis, que o colocam na linha de frente tanto da transição energética quanto das soluções baseadas na natureza.
Contamos com uma matriz energética majoritariamente limpa, renovável e de baixo custo. Isso nos coloca em posição de competir globalmente por investimentos de setores em expansão, como data centers, inteligência artificial e indústrias eletrointensivas. Para empresas que buscam cortar emissões de forma acelerada e, ao mesmo tempo, otimizar custos operacionais, escolher o Brasil significa ampliar sua competitividade.
A monetização dessa oportunidade, que pode alcançar US$ 90 bilhões até 2040, depende de atrair investimentos estrangeiros, transformar o Brasil em um hub de processamento digital e ampliar a exportação de biocombustíveis. Pode-se dizer, sem exagero, que o País possui um verdadeiro endowment climático, que deve ser tratado como ativo estratégico.
Às vésperas da COP30 em Belém, a NYCW consolidou-se também como plataforma para o setor privado brasileiro. Mais do que um encontro anual, tornou-se uma vitrine para posicionar o País no centro da pauta climática global.
A Sustainable Business COP — iniciativa pioneira da Confederação Nacional da Indústria (CNI), criada para mobilizar o setor privado mundial na apresentação de casos de sucesso e propostas concretas para a agenda climática — entregou ao presidente da COP30 uma carta com recomendações pragmáticas para avançar nesse campo.
No eixo de transição energética, por exemplo, o foco deve estar em ampliar a eficiência energética, acelerar a adoção de fontes renováveis já competitivas em custo e expandir o uso de biocombustíveis em aplicações nas quais apresentem vantagens tecnológicas e econômicas.
Outro ponto central do debate na NYCW 2025 é o avanço das soluções baseadas na natureza. Agroflorestas, agricultura regenerativa, bioeconomia e restauração de florestas deixaram de ser temas periféricos e hoje figuram no centro da agenda de investimentos climáticos.
Aqui, o Brasil também está bem posicionado: detém a maior reserva dessas soluções do mundo — cerca de 15% do total global — e assumiu compromissos significativos para avançar nessa frente. O custo de restaurar ecossistemas e gerar créditos de carbono no País é entre duas e dez vezes menor do que em quase qualquer outro lugar, e temos todos os ingredientes para criar os novos campeões globais. A lógica é simples: se não funcionar no Brasil, dificilmente funcionará em outra parte do mundo.
O saldo da NYCW deste ano trouxe, para nós, a mensagem de que pragmatismo e orientação à ação são os motores que movem o setor privado, alimentando a esperança de que as metas climáticas serão alcançadas — não como promessas distantes, mas como uma realidade construída dia após dia. O capital existe, os investidores estão prontos e as soluções já estão in the money.
Nesse contexto, o Brasil, com seus vastos recursos naturais e o engajamento de suas grandes empresas, mantém um papel central e pode, além de ajudar o mundo a construir um futuro mais sustentável, aproveitar a oportunidade para seguir crescendo e se desenvolvendo.
Reinaldo Fiorini é sócio sênior da McKinsey em São Paulo e líder da prática de Energia e Materiais na América Latina.
Marcus Frank é sócio da McKinsey em São Paulo.