O Brexit foi um “erro colossal”, disse o ex-primeiro-ministro britânico John Major em comentários feitos no início do mês.
Falando a uma comissão do Parlamento, Major não mediu palavras em suas críticas ao Brexit, opondo-se a Boris Johnson e outras lideranças de seu partido, o Conservador.
Na opinião de Major, o Brexit significou que os britânicos ficaram de fora dos três principais blocos de poder. “Há os EUA, existe a China e existe a União Europeia,” disse. “Nós deveríamos estar na Europa.”
Major sucedeu Margaret Thatcher e comandou o Reino Unido de 1990 a 1997. Foi também secretário do Tesouro no final dos anos Thatcher.
De acordo com ele, a Europa vai enfrentar uma “competição imensa dos EUA e da China” e deverá lidar também com ameaças chinesas na área de segurança. “Não apenas nós,” disse Major, “mas toda a Europa” sairia fortalecida com a presença dos britânicos no bloco.
Para Major, em um mundo repleto de desafios, o Reino Unido estaria mais seguro nos momentos de dificuldades com “amigos que podemos dar um abraço apertado” em vez de ficar isolado e contar com o apoio daqueles que “podem estar menos dispostos a vir em nossa ajuda.”
“Essas são questões relevantes para a atual geração e para as próximas, e não acho que eles tiveram o peso devido no referendo,” disse o ex-primeiro ministro. “São esses pontos estratégicos que me fazem acreditar que deveríamos estar na Europa e que cometemos um erro colossal.”
O referendo ocorreu em junho de 2016. Depois de anos de negociações e incertezas, o Reino Unido saiu oficialmente da UE em 31 de janeiro de 2020, pouco antes do início da pandemia, mas permaneceu no mercado comum europeu até o fim daquele ano.
Defensores do Brexit argumentam que, sem as amarras burocráticas e os custos da Comissão Europeia, o Reino Unido ganhará dinamismo econômico. Ao menos até o momento, o resultado foi o oposto.
Jonathan Haskel, um membro externo do comitê de política monetária do Bank of England, causou controvérsia recentemente ao estimar que o Reino Unido sofreu uma “penalidade na produtividade” de 1,3% do PIB – ou 29 bilhões de libras (US$ 35 bilhões).
O governo contestou os números, mas é fato que, desde que a campanha do Brexit ganhou as ruas, o país tem ostentado números piores do que as outras grandes economias europeias, no que à atração de investimentos e crescimento do PIB.
Alemanha, França e Itália já recuperaram as perdas ocorridas durante a pandemia. O Reino Unido não, e seu PIB continua abaixo do patamar registrado no final de 2019.
Desde o último trimestre daquele ano, os EUA tiveram um crescimento acumulado de 4,3%. A Itália, mesmo atolada em suas intermináveis crises políticas, avançou 1,8%. A França cresceu 1,1%, e a Alemanha, 0,3%. No Reino Unido, houve uma retração de 0,4%.
O Brexit também teve impacto nos preços. O comércio britânico com a Europa passa de US$ 600 bilhões ao ano. Uma sondagem da British Chambers of Commerce revelou que muitas empresas ainda não se adaptaram completamente às novas regras alfandegárias. As barreiras contribuíram para deixar mais caros alimentos e outras mercadorias nas gôndolas dos supermercados.
Economistas e empresários britânicos favoráveis à saída da UE não dão o braço a torcer. Dizem que os problemas, entre eles a diminuição nos ganhos de produtividade, vêm de longe e são anteriores ao Brexit.
Mas os eleitores parecem não concordar. Pesquisas de opinião recentes mostram um aumento no percentual de pessoas que se arrependem de terem votado a favor do rompimento com a UE.
Rushi Sunak, o atual primeiro-ministro conervador, anunciou hoje um acordo com a Comissão Europeia a respeito dos protocolos comerciais na fronteira da Irlanda do Norte. Esse tem sido um dos temas mais espinhosos nas negociações pós-Brexit. Agora será preciso ver se os membros de seu partido darão aval às regras propostas.