O Banco do Brasil reportou um resultado que superou as expectativas mais otimistas do sellside e foi visto como um ‘oásis’ num setor sitiado pela fraude da Americanas e a alta da inadimplência.
O lucro líquido do quarto trimestre bateu R$ 9 bilhões, 10,5% acima do consenso, com um ROE de 23% — disparado o maior entre os bancões.
Para efeito de comparação, o Bradesco entregou um ROE de 3,9% no quarto tri, o Santander Brasil, de 8,3%, e o Itaú, de 19%
O JP Morgan elevou o papel para ‘compra’ com preço-alvo de R$ 56. A ação sobe mais de 4% no início da tarde, a R$ 42,32.
O BB também divulgou seu guidance para 2023, sinalizando um lucro líquido de R$ 33 bilhões a R$ 37 bilhões (um ROE de cerca de 20%). Os analistas tinham no modelo R$ 31- 34 bilhões. Na mediana do consenso, o crescimento seria de mais de 10%.
O BB também espera que sua carteira de crédito cresça entre 8% e 12% em 2023, e que a margem financeira líquida (NII) — o spread bancário — cresça entre 17% e 21%.
A projeção para o crescimento da carteira veio um pouco acima das estimativas dos players privados. O CFO Ricardo Forni explicou que isso tem a ver basicamente com a exposição do BB ao agronegócio, que tem crescido a taxas de 25% ao ano nos últimos dois anos.
“As nossas premissas são as mesmas do mercado para a economia e, nas carteiras PF e PJ, nosso guidance está bem parecido com os demais,” disse ele.
Ricardo também ressaltou que o guidance para 2023 é uma “resposta contundente” às dúvidas do mercado sobre a sustentabilidade do retorno do banco.
“Para 2024 e 2025 o ROE pode reduzir um pouco porque a perspectiva futura é de redução de juros e isso afeta o ROE. Mas achamos possível rodar com um ROE em torno de 18% a 20% no longo prazo.”
A CEO Tarciana Medeiros, que assumiu o comando há menos de um mês, também sinalizou que a agenda do banco deve ser de continuidade.
“Vamos manter o que estamos fazendo de melhor até aqui,” disse ela. “E mais do que a elaboração de uma estratégia robusta eu acredito na execução da estratégia.”
No quarto tri, o lucro do BB foi impulsionado por resultados positivos no top line somados a sólidos ganhos de eficiência, escreveu Henrique Navarro, do Santander.
“O Banco do Brasil também se beneficiou da linha de “outras receitas operacionais,” que incluiu um update nos depósitos em garantia, reversão de provisões, e operações com cartões.”
Esses fatores somados levaram o banco a entregar um lucro robusto apesar do aumento da inadimplência e de uma alta expressiva nas provisões por conta do caso Americanas.
Diferente do Itaú e Bradesco, que provisionaram 100% de suas exposições à varejista, o BB provisionou apenas 50% (ou R$ 788 milhões) — o que já gerou um aumento de 45% nas provisões em comparação com o terceiro tri.
A inadimplência de mais de 90 dias do banco teve uma leve alta de 0,17 ponto percentual para 2,51%, refletindo um cenário macroeconômico mais desafiador que tem afetado todos os bancos. Apesar da alta, o número ficou em “linha com a estratégia de mudar o mix do portfólio para linhas de crédito com um melhor risco-retorno,” escreveu Eduardo Rosman, do BTG.
O NPL de cartões de crédito, por exemplo, subiu apenas 0,21 ponto para 10,5%, uma forte desaceleração em comparação a alta de 2,3 pontos do terceiro tri. Para Rosman, esse resultado refletiu as medidas tomadas no segundo semestre para reduzir as originações em ‘mar aberto’ nesse segmento.
O BTG notou também que o grande destaque do trimestre foi o NII, que subiu 8% em comparação com o terceiro tri e mais de 40% na comparação anual, impulsionado por fortes volumes e uma reprecificação do portfólio de crédito. O BB também teve ganhos fortes com a tesouraria, graças a um cenário de juros mais altos. Esses ganhos subiram 8% na comparação trimestral e 140% na comparação anual.
“O Banco do Brasil reportou os melhores resultados dentre os bancos que cobrimos e a diretoria confirmou nossa visão otimista para este ano,” escreveu Pedro Leduc, do Itaú BBA.
O bom resultado do BB jogou luz sobre o valuation extremamente barato do banco estatal.
Se entregar o guidance de lucro para o ano que vem, o Banco do Brasil estaria negociando hoje a apenas 3,3x seu lucro com um dividend yield de 12%. Olhando o múltiplo price-to-book, o banco negocia a apenas 0,6x. “Entendemos os riscos de ser uma empresa estatal, mas acreditamos que a ação está barata demais para ignorar,” escreveu Rosman.