A Ademicon — a maior administradora independente de consórcios do Brasil — acaba de fechar uma rodada com a 23S, a gestora que nasceu com recursos da Temasek e do Grupo Votorantim.
A captação, que ficou entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões, vem depois da Ademicon ter estudado um IPO — um plano que agora foi adiado.
“O IPO sempre está no nosso olhar estratégico, mas precisamos que a janela esteja favorável para a nossa entrada,” Tatiana Schuchovsky, a CEO da Ademicon, disse ao Brazil Journal. “A 23S vai nos ajudar a caminhar nessa jornada [até o IPO] e eles trazem um olhar de investidor estrangeiro que achamos importante.”
A Ademicon tem mais de R$ 32 bilhões em cartas de crédito ativas, o que a coloca como a quinta maior administradora de consórcios do País, atrás de bancos como Bradesco e Itaú, mas à frente do Santander. A empresa é a maior entre as administradoras independentes.
No ano passado, a companhia vendeu R$ 12 bilhões em consórcios, 46% a mais que no ano anterior. A Ademicon recebeu R$ 600 milhões em taxas de administração nesse período e teve uma geração de caixa operacional de R$ 100 milhões. (A taxa de administração é uma proxy da receita bruta, que a companhia não abre).
Tatiana disse que a Ademicon tem geração positiva de caixa há anos e teria condições de continuar crescendo sem a injeção de capital.
Mas com os recursos da 23S, a Ademicon terá poder de fogo para executar um plano de consolidação do mercado de consórcios, o que deve envolver M&As de administradoras menores.
Hoje, o mercado tem mais de 100 administradoras independentes, e a Ademicon tem um market share de menos de 10%.
“O setor está passando por um processo de profissionalização e consolidação muito forte,” disse Matheus Villares, da 23S. “E os players maiores, mais bem capitalizados e mais bem geridos vão liderar esse movimento.”
Dois fatores estruturais atraíram a 23S: a penetração do crédito ao consumidor no Brasil é em torno de 30%, um patamar baixo em comparação com mercados desenvolvidos, e o mercado de consórcios representa apenas 17% do mercado de crédito como um todo (cerca de R$ 500 bilhões em comparação aos R$ 3 trilhões do crédito).
“Se o Brasil entrar num ciclo virtuoso isso tende a aumentar muito, porque com o consórcio você cresce evitando os juros e com um produto que cabe no orçamento das pessoas,” disse Matheus.
A Ademicon foi fundada em 1991, mas começou a acelerar seu crescimento cinco anos depois, quando os pais de Tatiana compraram a empresa, que se chamava Ademilar e era uma pequena administradora de consórcios residenciais com apenas quatro funcionários.
De lá para cá, a companhia cresceu 40% ao ano (o dobro do mercado) com uma gestão basicamente familiar. O pai de Tatiana ainda é o presidente do conselho, e Tatiana se tornou CEO em 2020 depois de passar por praticamente todas as áreas da companhia.
A Ademicon opera com três verticais de negócios: a Ademicon Consórcios, que vende consórcios com marca própria pelos canais digitais e 160 lojas; a Ademicon Administradora, um ‘consórcio as a service’ para empresas que queiram oferecer consórcios usando suas marcas; e a Ademicon Crédito, que vende produtos como home equity, car equity e seguros e que representa apenas 5% da receita.
A rodada com a 23S é a primeira da história da Ademicon, mas a empresa já tinha um fundo de private equity no cap table. Em 2020, a Ademilar se fundiu com a Conseg, que era controlada pela gestora Treecorp, dando origem à Ademicon. Com a fusão, a Treecorp se tornou um acionista relevante da companhia.