Menos de um mês depois de dizer que estudava uma operação no mercado de capitais para “otimizar sua participação” na Copel, o Estado do Paraná anunciou a privatização da empresa – um movimento que deve criar mais uma corporation no setor de energia, nos moldes do que foi feito com a Vibra e a Eletrobras.

Demonstrando ser aquele raro governador que entende que o papel do estado não é ser investidor, o Governador Ratinho Júnior disse numa carta enviada à companhia que pretende vender ações e transformar a Copel em uma companhia de capital disperso, sem controlador.

Paraná Copel“Ratinho Júnior deu um drible da vaca no mercado…” resumiu um gestor citando uma entrevista do governador publicada na sexta-feira. Nela, Ratinho dizia que “a ideia é fazer a Copel ser a maior empresa de energia elétrica do Brasil. A modelagem tem de ser estudada, mas desde que o Estado seja majoritário, isso é algo de que a gente não abre mão.”

A ação PNB da Copel, a mais líquida, sobe 23% desde a abertura; enquanto a ON avança 20%.

Na correspondência enviada à empresa, o governador disse que o modelo da privatização prevê que o estado fique com pelo menos 15% do capital total da Copel e 10% das ações com direito a voto.

Com a venda dos papéis, o governador buscará recursos para suprir as necessidades de investimento do estado, além da valorização das ações da Copel, inclusive “em virtude de eventual capitalização da companhia e aceleração de seu plano de negócios.”

O Paraná detém 69,7% das ONs e 6,9% das PNs da Copel, o que equivale a 31,1% do capital total.  O BNDES é um acionista relevante, com 12,4% das ONs e 31% das PNS, ou 24% do capital total  – o banco  já informou desde 2020 que deseja vender a participação.

O market cap da Copel  é de R$ 23,4 bilhões.

O modelo de governança em estudo para a operação da Copel segue as mesmas premissas do utilizado pela Eletrobras: prevê, por exemplo, que nenhum acionista ou grupo de acionistas poderá votar com mais de 10% das ações.

Também está prevista a criação de uma ação preferencial especial, que será detida exclusivamente pelo estado e dará poder de veto em alguns temas, relacionados à aprovação e execução do plano anual de Investimentos da Copel.

A privatização da empresa dependerá de autorização legislativa. O projeto de lei deverá ser encaminhado ainda hoje e será analisado pelo Tribunal de Contas do Estado.

“Pela quantidade de detalhes da carta do governador, já deve estar tudo costurado para a aprovação da privatização,” disse um analista. “A principal questão agora é saber quem será o acionista de referência da empresa.”

Para o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, “sem dúvida é um fato a ser comemorado, ainda mais no atual contexto onde se ouvem discursos atrasados em Brasília daqueles que voltam ao passado defendendo o fim de programas de privatização e o fortalecimento de empresas estatais.”