O Nubank acaba de reportar números que vieram acima das projeções do sellside — a despeito do crescimento da inadimplência e da desaceleração da carteira de crédito.
O resultado fez o papel andar 16% no after market em Nova York.
O banco digital reportou um lucro líquido (sem nenhum ajuste) de US$ 7,8 milhões, enquanto o consenso esperava um prejuízo líquido de US$ 25 milhões.
O lucro líquido ajustado (excluindo as despesas com a remuneração de executivos) ficou em US$ 63 milhões.
O CFO Guilherme Lago disse ao Brazil Journal que o bottom line se beneficiou de um custo de funding menor e de uma reprecificação da carteira de crédito, principalmente do crédito pessoal. O juro médio dessa carteira ficou em 5,6% ao mês.
“É uma reprecificação que começamos a fazer no começo do segundo tri mas demora alguns meses para aparecer no balanço. Só isso mais que compensou a alta da inadimplência,” disse o CFO.
Essa reprecificação, aliada a uma melhoria na eficiência operacional, levou a um aumento na margem bruta, que cresceu 1,4 ponto percentual para 33%.
Apesar dos bons números, o Nubank viu sua carteira de crédito desacelerar, o que já era esperado pelo mercado, ainda que em escala menor.
A carteira total subiu de US$ 9,2 bilhões para US$ 9,7 bi, um aumento de apenas 5,2% – três vezes menor que o do trimestre anterior, quando a carteira de crédito havia crescido 15%.
O consenso do mercado era de que a carteira chegaria a US$ 10,3 bilhões, uma alta de 10%.
O crescimento da carteira foi sustentado basicamente pelo cartão de crédito, que subiu de US$ 7,2 bilhões para US$ 7,8 bilhões. Já a carteira de empréstimo pessoal teve uma leve queda para perto de US$ 2 bi.
A inadimplência também continuou a aumentar – mas os números vieram em linha com o mercado. O NPL 90 dias, que mede os créditos com atrasos superiores a 90 dias, ficou em 4,7% da carteira, uma alta de 6 pontos percentuais na comparação com o segundo tri.
“Continuamos ganhando market share mês a mês e achamos que vamos continuar ganhando mercado em 2023,” o CEO David Vélez disse ao Brazil Journal. “Mas é claro que parte do negócio vai ser influenciado pelo cenário macro. Nosso apetite a risco é menor.”
Segundo ele, a parte de cartão de crédito é mais previsível, “porque temos mais informações sobre o cliente, então conseguimos aumentar o limite para quem está indo bem e diminuir para quem tem mais risco.”
Já em crédito pessoal a dificuldade é maior, “mas estamos num volume legal, confortável e monitorando sempre o mercado,” disse o CEO.
Questionado se o cenário mais adverso tem afetado o modelo de crédito da companhia, o CFO disse que o Nubank faz uma série de back tests e tem visto a performance real muito parecida com a projetada pelos modelos.
“Não pretendemos fazer nenhuma mudança significativa nos nossos modelos,” disse ele. “Temos visto um pequeno aumento na inadimplência a partir do segundo tri, que ficou um pouco acima do [projetado] nos nossos modelos, mas grande parte vem de crescimento da carteira.”
As provisões do Nubank também vieram melhores do que o mercado projetava. O banco aumentou as provisões em US$ 240 milhões, enquanto o consenso era de um aumento de US$ 360 mi.
A receita do Nu ficou em US$ 1,3 bilhão, um crescimento de 171% na comparação anual, e a base de clientes ultrapassou os 70 milhões com a adição de 5,1 milhões de novos correntistas.