A resistência de setores do PT está colocando em risco a candidatura do Brasil à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – uma eleição que tinha tudo para ser uma barbada e que, se perdida, vai privar o Brasil de exercer a liderança do banco de fomento pelos próximos 10 anos.
No mês passado, o Ministro Paulo Guedes indicou Ilan Goldfajn como o candidato do Brasil para presidir o BID – a primeira vez nos 59 anos de história do BID que o País teria o comando da instituição, responsável por US$ 12 bilhões em empréstimos para prefeituras, estados e governos na América Latina.
Todos os grandes países da região – México, Chile e Colômbia – já presidiram o banco. O Brasil, nunca. O mandato é de cinco anos, renovável por mais cinco.
Mas numa entrevista à Reuters poucos dias antes do segundo turno, Celso Amorim e Guido Mantega defenderam o adiamento da eleição no BID para que, se eleito, Lula pudesse indicar um outro nome.
Agora, o Brazil Journal apurou que Mantega chegou a enviar uma carta à Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e aos governos do Chile, Colômbia e Argentina tentando persuadi-los a adiar o pleito, marcado para 20 de novembro.
“Essa pressão sobre os maiores acionistas do BID mostra pra todo mundo que o Brasil está dividido,” disse uma pessoa que acompanha o assunto nos bastidores.
Ao escolher Ilan, Paulo Guedes escolheu um dos melhores nomes técnicos do País, um candidato sem coloração partidária que nunca foi associado nem ao Bolsonarismo nem ao petismo.
O próprio Guedes precisou superar discordâncias pessoais com Ilan para indicá-lo – o que setores do PT agora parecem incapazes de fazer.
“O Ilan é um candidato de Estado, e agora, por causa de briga política, o Brasil pode perder um cargo que é nosso por direito,” disse uma fonte de Brasília que participa das discussões.
Fontes da equipe de transição dizem que Ilan tem o apoio de vários nomes do PT e de aliados, que estão tentando remover obstáculos à candidatura.
Os EUA são o maior acionista do BID, com 30% do capital (e dos votos). O Brasil tem outros 11%. Em tese, conseguir os 10% que faltam para obter a maioria não seria difícil – mas pelas regras da eleição, o candidato vencedor tem que ter também a maioria dos 48 países-membros, ou seja, 25 votos.
Antes da eleição de Lula, Ilan estava se mostrando um candidato competitivo – em parte por ter o apoio do Tesouro americano. (Os EUA “devem” ao Brasil porque, quando Bolsonaro indicou Rodrigo Xavier para o mesmo cargo, Donald Trump ligou para o Planalto pedindo a vaga como um favor pessoal. O candidato de Trump ganhou, mas foi impichado depois de dois anos.)
O favoritismo de Ilan já havia tirado da disputa a mexicana Alicia Bárcena Ibarra e a ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla.
A movimentação de nomes como Amorim e Mantega – tentando obstaculizar Ilan – cria uma saia justa para os países latino-americanos, que querem ficar bem com Lula e agora esperam uma sinalização de Brasilia. Ao mesmo tempo, a manobra dos petistas é um tiro no pé, porque a diretoria do BID já disse que não vai adiar a eleição – e porque um candidato enfraquecido tem um flanco aberto.
Se Lula não apoiar explicitamente o candidato do Brasil, o Tesouro americano já trabalha um Plano B: Gerardo Esquivel, do Banco Central do México.