A Eneva acaba de ganhar quase 600 MW de capacidade de geração térmica no ‘leilão da Eletrobras’ – um projeto que tem potencial de adicionar R$ 1,5 bilhão ao EBITDA da companhia a uma TIR real que investidores calculam que pode chegar a 60%.
O leilão era altamente aguardado pelos acionistas da Eneva por seu potencial de geração de valor para a companhia, dado que as térmicas estão no Norte do País, onde estão as reservas de gás da empresa.
O leilão – que aconteceu em virtude da lei de privatização da Eletrobras – colocou à venda 1 GW de energia com a construção de três térmicas na região Norte do País.
Havia três grandes competidores: a Eneva, a francesa Global Participações em Energia (GPE), e a Eletronorte. A Eneva levou duas das três térmicas, e a outra ficou com a GPE.
O leilão saiu sem nenhum deságio, ao preço máximo de R$ 444/MWh.
Nas últimas semanas, o mercado estava precificando uma competição mais forte no leilão, o que poderia levar a preços menores. A expectativa fez a ação da Eneva cair de R$ 16,10 no dia 12 deste mês para R$ 14,26 na abertura de ontem.
Hoje, o papel sobe 1,5% com a notícia, negociando a R$ 14,65.
O projeto deve gerar um valor brutal para a Eneva. O mercado está projetando uma taxa interna de retorno (TIR) que varia de 40% a 60% ao ano com a construção das duas térmicas — dependendo do capex projetado por cada analista.
Os analistas do BTG, por exemplo, projetam uma TIR de 60%, assumindo um capex de R$ 2,7 bilhões.
“A TIR é alta assim porque a Eneva tem um custo de gás muito baixo, já que ela vai mandar o gás de Azulão, e porque o leilão quase não teve competição, o que fez o preço sair no teto,” disse Pedro Marco, analista da Reach Capital. A gestora está comprada há anos em Eneva, que é a maior posição de seu fundo long only.
As duas térmicas serão construídas ao longo dos próximos anos e tem prazo limite de entrega até o final de 2026. A expectativa é que elas aumentem o EBITDA da Eneva em cerca de 50% em relação aos níveis atuais (com a adição de cerca de R$ 1,5 bilhão).
Pelos termos do leilão, as térmicas serão inflexíveis. Ou seja, terão que despachar energia em 70% do tempo – diferente do que acontece na maioria das térmicas hoje, que são acionadas apenas quando as hidrelétricas estão com o reservatório baixo.
“Essas térmicas vão dar confiabilidade ao sistema,” disse Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Elas vão permitir gerenciar melhor a água dos reservatórios das hidrelétricas e reduzir a volatilidade dos preços.”
O leilão de hoje também colocou à venda mais 1 GW de capacidade de geração térmica na região Nordeste do País, mas esses ativos não atraíram nenhum interessado.
Segundo Adriano, não houve interessados “porque esse preço de R$ 444/GWh não é suficiente para o empreendedor correr o risco lá.”
“No Norte, eles vão usar gás natural onshore nas térmicas, que é muito mais barato. No Nordeste, eles teriam que usar GNL importado, que está com um preço estratosférico hoje por conta da situação do mercado. A conta não fecha.”
Em março do ano que vem, o governo deve fazer um novo leilão, quando esses 1 GW do Nordeste devem ser colocados novamente à venda.