A Crescera Capital vai investir R$ 300 milhões para ficar com 10,6% da Vitru, a holding de ensino a distância dona da Uniasselvi e da UniCesumar.
A gestora está pagando US$ 15,40 por ação – um desconto de 28% em relação ao fechamento do papel na Nasdaq ontem.
A ação fechou hoje a US$ 18, em queda de 15,4%.
A Vitru comprou a UniCesumar ano passado por R$ 3,2 bilhões num movimento que consolidou a holding na liderança do ensino à distância no País — mas que também elevou sua alavancagem.
O private placement com o Crescera vai servir para desalavancar a Vitru. A operação prevê um rights offering para os acionistas do free float (21,6%) e da família que fundou a UniCesumar (23,4%) que poderá levar a injeção de recursos na Vitru a R$ 425 milhões.
Os acionistas terão o direito de comprar uma nova ação da Vitru para cada 6 que já possuírem nas mesmas condições da Crescera, numa operação que poderá movimentar entre R$ 100 milhões e R$ 125 milhões.
A Crescera vai ficar com as sobras até o limite de R$ 100 milhões, o que elevaria sua participação na Vitru para 13,7%.
Os fundos Vinci (20,4%), SPX/Carlyle (20,4%) e Neuberger Berman (14,2%) serão diluídos.
O analista Javier Cerdan, do Morgan Stanley, disse que a alavancagem da Vitru deve cair de 4,4x para 3,8x: “Ainda num patamar alto, mas administrável”, escreveu.
Nas contas dele, a operação avalia a Vitru a 7,8x EV/EBITDA para 2023.
“É um movimento interessante para um private equity local, que hoje poderia comprar empresas listadas que estão negociando entre 3-6x EV/EBITDA, mas decidiu investir no principal player de ensino a distância a um múltiplo de quase 8x”, escreveu o analista do Morgan.
O Bradesco BBI também destacou a capacidade da Vitru de atrair um investidor estratégico com forte histórico no setor de educação. A Crescera já investiu na Abril Educação, Anima e Afya.
“Acreditamos que um follow-on e a venda de seu braço de cursos de medicina, hoje com 348 vagas, continuam nos planos da empresa, que quer reduzir a alavancagem para uma faixa entre 2-2,5x,” escreveram os analistas Marcio Osako e Caio Rocha, do Bradesco.
Segundo um gestor, se o mercado melhorar, a Vitru deverá optar pelo follow-on, que também daria saída para um pedaço da participação dos fundos. “Acredito que a Vitru tem interesse em manter o braço de medicina, que é forte. Vai vender só se a corda apertar e o mercado permanecer difícil,” disse.
A Vitru também renegociou o pagamento de R$ 557 milhões para a família dona da UniCesumar que venceria em maio de 2023 e foi adiado em 12 meses.
A Crescera vai ter um lock up de sua participação na Vitru até novembro de 2023. A gestora também terá duas cadeiras no conselho de administração até a assembleia de acionistas de 2024.
Depois disso, se tiver mais de 15% da Vitru vai poder indicar dois integrantes; se a participação for entre 5% e 15%, vai indicar apenas um.