A TT Investimentos, uma gestora criada há apenas cinco anos, pode ter que fechar as portas depois que uma operação com derivativos no mercado americano deu errado, causando um prejuízo de centenas de milhões de reais.
O caso ganhou atenção porque os fundadores — Antônio e Arthur Fraga Bahia — são sobrinhos do ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, que também é o maior cotista do fundo.
A operação, que Arthur definiu ao Brazil Journal como “arriscada”, foi feita pelo fundo TT Global Equities e envolveu a venda de opções de venda e a compra de opções de compra de uma empresa que o gestor diz conhecer “profundamente” — a Clarus, uma fabricante americana de equipamentos para atividades ao ar livre, como escalada, esqui e montanhismo.
Para manter a operação, que deixou o fundo ‘comprado’ em Clarus, é preciso depositar margens.
Numa carta nitidamente emocionada, Arthur pediu desculpas aos cotistas e explicou o que deu errado.
“Até uma semana, a operação caminhava bem,” escreveu. “Mas, há cinco dias, para sair da posição, tive que alavancar o fundo por alguns dias.” No dia seguinte a essa alavancagem, o custodiante americano resolveu “tirar toda a margem que havia dado um dia antes, diante da concentração do portfólio.”
Arthur foi obrigado a liquidar a posição em dois dias, “o que gerou perdas irreparáveis ao fundo”. A operação também derrubou a cotação da Clarus, que saiu de US$ 26,99 em 25 de agosto para US$ 15,17 seis dias depois.
Arthur não informou qual foi a alavancagem atingida pelo fundo em Clarus, nem o valor das perdas no patrimônio.
Desde ontem, no entanto, circula no mercado uma cópia de um regulamento de um fundo espelho do TT Global Equities no Brasil que mostra que o fundo não poderia se alavancar ou ter exposição superior a 25% numa única ação.
Arthur nega essa informação e diz que o offering do fundo offshore permite sim operar alavancado.
“Não houve nenhuma ilegalidade,” ele disse ao Brazil Journal. “O fundo offshore sofreu perdas relevantes por conta de uma operação que deu errado.”
Arthur disse que ele e os sócios ainda estão decidindo o que fazer, mas que provavelmente a TT deve encerrar suas atividades.
Segundo ele, a gestora tem “pouquíssimos” cotistas, e todos grandes investidores. Arminio é o maior deles. “São todas pessoas próximas, por essa razão, para nós, isso é quase que uma questão familiar,” disse ele.
No email enviado aos cotistas, Arthur disse que não apenas perdeu o dinheiro do fundo, mas acabou com sua carreira.
“Eu nem imagino a raiva e o desapontamento que estejam sentindo nesse momento,” escreveu. “Saibam que mais de 95% do meu patrimônio e dos meus sócios estava no fundo.”
Nas contas de um investidor, a gestora chegou a ter mais de 200% do fundo alavancado em Clarus. Outra fonte comentou que por conta das providências do custodiante, a alavancagem “deve ter sido brutal.”
O patrimônio do fundo local da TT chegou a cair em torno de 80%. No fundo offshore, que teria um patrimônio ao redor de US$ 150 milhões, a perda foi de 100%.