Quando arrematou o Bloco 2 da Cedae ano passado, a Iguá Saneamento já conhecia as grandes oportunidades de ganhos na região que compreende a Barra da Tijuca, Jacarepaguá e dois municípios do Grande Rio. Foi justamente isso que fez a empresa fazer o cheque vencedor de R$ 7,3 bilhões, um ágio de quase 130% na outorga mínima.
Mas quando meteu o pé na lama – e a mão nos tubos – o CEO Carlos Brandão viu que a oportunidade era ainda maior.
O desperdício da velha Cedae – estimado no edital em cerca de 35% de toda a água tratada no estado do Rio de Janeiro – pode chegar a 60%, segundo dados preliminares compilados pela equipe técnica.
As perdas – que compreendem desde vazamentos até desvios criminosos – geravam R$ 1,2 bilhão de prejuízo por ano para a Cedae.
Mas, com a operação em mãos desde fevereiro deste ano, a Iguá começou a refazer as contas. O capex da Iguá na área de concessão vai ser muito maior – a companhia ainda está fazendo as contas – mas “isso vai se tornar uma injeção de margem na veia,” Brandão disse ao Brazil Journal.
O que pode mudar é o prazo para alcançar a meta de 25% de desperdício. “Temos dez anos para chegar a esse número, então talvez tenhamos que pedir mais tempo,” disse Brandão.
A operação no Rio, que começou a rodar em fevereiro, é a joia da coroa da Iguá, e deve ajudar a empresa a mais que dobrar seu faturamento de R$ 1,05 bilhão no ano passado. Isso porque algumas mudanças na área de concessão já devem trazer ganhos de curto prazo para a companhia.
Um ponto que surpreendeu os executivos foi que 70% da receita vem de 4,5 mil ligações, o que representa apenas 3% dos clientes. São grandes complexos comerciais e edifícios residenciais que ainda possuem hidrômetros antigos e sem precisão, o que reduz as receitas da companhia em até 15% por cliente. Segundo Brandão, já estão sendo feitos pedidos para trocar esses registros por outros com tecnologia mais avançada – e que permitem um controle maior de desperdícios.
Apesar de a operação do Rio de Janeiro ser um full-time job, a Iguá já se diz pronta (e capitalizada) para bidar novos projetos.
Como o mau momento da Bolsa praticamente impede um IPO no curto prazo, a empresa controlada pela IG4 Capital levantou R$ 600 milhões junto ao Canada Pension Plan Investments (CPPI) e outros R$ 2,4 bilhões junto aos atuais controladores.
Por ora, esse dinheiro será suficiente para a empresa entrar em disputas por parcerias público-privadas (PPPs) que estão no pipeline para os próximos anos, incluindo mercados como Fortaleza, Porto Alegre e Porto Velho. Também estão no radar as possíveis privatizações de Copasa e Sanepar.
Mesmo com a janela de IPOs temporariamente fechada, o plano de estrear no mercado de capitais continua. Apesar de afirmar não precisar de dinheiro no curto prazo, uma capitalização será fundamental para a companhia atingir sua meta de quadruplicar o faturamento até 2025.
Assim como concorrentes como Aegea e BRK Ambiental, a Iguá está sendo favorecida pelo Marco Legal do Saneamento, que vai exponencializar os investimentos no setor. Até 2033, o Brasil precisa gerar quase R$ 58 bilhões por ano em investimentos para alcançar as metas estipuladas na lei.
Os investidores também estão no aguardo para que essas empresas estreiem na bolsa. “O setor de utilities está em alta, mas as empresas de saneamento listadas têm um risco alto por causa do controle dos governos estaduais”, diz o estrategista-chefe de um grande banco.