Num ano em que a rentabilidade média dos fundos multimercado gira em torno de 8%, o retorno entregue pela Vista Capital chama a atenção.
O Vista Multiestratégia, o principal fundo da casa, rendeu 39% até junho – e o motor da alta é uma controversa aposta no petróleo que a gestora carrega desde 2019.
Além de contratos futuros de petróleo – com vencimentos mais longos, a partir do meio de 2023 – no passado as posições da Vista incluíram também ações do setor, inclusive a Petrobras, que esteve na carteira de 2016 a 2021.
Mas em meio ao processo eleitoral, a gestora prefere ficar longe da estatal. “Existem coisas mais baratas na Bolsa,” diz João Landau, o fundador e diretor macro da Vista.
Depois da explosão de preços recente, parte do mercado passou a apostar numa queda da commodity em razão de uma possível recessão global. Os contratos futuros que vencem a partir do meio de 2023 precificam o barril em torno de US$ 75, frente ao preço atual de cerca de US$ 100.
Landau pensa (bem) diferente. Para ele, os preços vão ficar altos por um bom tempo porque a capacidade de oferta no mundo está esgotada.
Por pressão de acionistas ávidos por dividendos e em meio ao debate ESG, as petroleiras têm investido menos no aumento da produção – e nada indica que isso mudará tão cedo.
“Uma pequena recessão, como está precificada, não é capaz de derrubar a demanda,” Landau disse recentemente no evento de lançamento do podcast Market Makers.
Para proteger as carteiras se ocorrer uma contração mais forte da economia global, a gestora tem um hedge em juros, que gera retorno caso as taxas caiam (o cenário esperado em meio a uma recessão significativa).
Filho de Elena Landau, a ex-diretora de privatizações do BNDES e atual coordenadora econômica de Simone Tebet, Landau fundou a Vista em 2014 junto com João Eduardo Lopes, o diretor de ações da gestora, e Luiz Guilherme Gama, um advogado que foi analista de crédito na Vinci e hoje é o CEO da Vista.
Antes da Vista, Landau trabalhou no Pactual, onde cobria o setor de óleo e gás na área de research do banco, e foi sócio e gestor macro da Paineiras.
A captação da Vista andou devagar nos primeiros quatro anos, mas começou a engrenar em 2019 apoiada num histórico consistente de bom desempenho e ganho de prestígio entre seus principais clientes, grandes investidores institucionais.
A Vista tem R$ 5,5 bilhões sob gestão, e mais da metade do passivo está alocada entre family offices e fundações. Em 2020, Pérsio Arida entrou como sócio e passou a atuar como consultor macro da gestora.
De 2015 a 2018, o Vista Multiestratégia rendeu 180%, enquanto o CDI ficou em 50%. Desde o início, em fevereiro de 2015, o fundo acumula um retorno de 628%, bem acima dos 79% do CDI.
Segundo dados da Quantum, nas janelas de 12, 24, 36 e 60 meses, o fundo está no primeiro quartil da indústria de multimercados – e, desde o início, é o top performer do segmento.
As maiores contribuições para os retornos variaram de ano para ano. Em 2016 e em 2018, vieram da Bolsa local. Em 2015, a ajuda veio do book de moedas, com uma aposta na queda do real contra o dólar.
Mas desde o ano passado, é a aposta nas commodities que fez a diferença no resultado.
Recentemente, a gestora passou a comprar ações de empresas brasileiras, mas mantém uma posição zerada na Bolsa local com a venda do índice.
Na ponta comprada: companhias voltadas à economia doméstica, como varejistas, operadoras de planos de saúde e empresas de propriedades – e especialmente as líderes de seus setores, que tendem a se beneficiar em momentos de crise.
“Quando dá ruim, o Brasil é um formador de oligopólios,” diz Landau. Com escassez de capital e juros altos, o custo de financiamento tradicionalmente sobe mais para as empresas menores, que também têm menos poder de barganha com governos e acesso a subsídios.
Ou seja, tendem a apresentar resultados piores, o que abre espaço para o crescimento das grandes.