RIO DE JANEIRO — Para colocar a ArtRio no mapa da arte internacional, Brenda Valansi não economiza.
Este ano, a dona da maior feira de arte do Rio atraiu 120 colecionadores e galeristas internacionais para o evento. Hospedou todos no Copacabana Palace e os tratou a pão-de-ló, num pacote que incluía visitas a ateliês, instituições culturais da cidade e coleções particulares fechadas ao público comum.
“Eles têm dinheiro para fazer o que quiserem, mas essa experiência só nós podemos oferecer,” explica Brenda.
No Rio, o prefeito é evangélico e o governador, cristão, mas a arte reza na bíblia do empreendedorismo.
Em sua nona edição, a feira atraiu 48 mil visitantes — o mesmo número que o ano passado — consolidando-se como um sucesso de público e financeiro em uma cidade cada vez mais carente e desesperançosa.
A estrutura grandiosa — montada em frente à água na Marina da Glória — abrigou estandes de 80 galerias, área de palestras, praça de alimentação e outras atrações.
Formada em História da Arte pela PUC e com uma curta trajetória como artista plástica, Brenda redescobriu-se uma mestra em organizar eventos a partir da primeira edição da ArtRio, que concebeu e inaugurou em 2011.
Este ano, teve que botar a feira na rua pela primeira vez sem a ajuda dos antigos sócios, que se desinteressaram pelo negócio depois de anos de recessão. Brenda diz que isso lhe ajudou a comprar a parte deles por “um bom preço”.
“Aprendi muito com eles, mas a verdade é que eu já tomava conta de tudo e agora dobrei a aposta,” diz Brenda.
Para tirar água de pedra, a empresária fez uma espécie de orçamento base-zero: assumiu a venda de ingressos e o bar, que antes eram terceirizados. “Com essas duas medidas, nosso faturamento aumentou 35% nos ingressos e 200% nas bebidas. Isso ajudou a fechar as contas,” diz.
Em uma cidade onde a hipocrisia também é uma forma de arte e o prefeito implica até com história em quadrinhos, a ArtRio é um oásis cultural com retorno econômico para a sociedade.
Além do apoio direto de empresas, o evento contou com pouco mais de R$ 1 milhão captados via leis de incentivo nas esferas municipal, estadual e federal.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o retorno, em impostos, é de quase R$ 3 milhões, sem falar nos 1.200 empregos.
Ontem, um dia depois do encerramento da feira, Brenda fechou com um novo sócio: a Dream Factory, ligada ao Grupo Artplan e voltada para grandes projetos de experiência ao vivo, do Carnaval de rua à Maratona do Rio.
“Eles têm know-how e são fortes nas áreas de marketing e comercial. Podemos virar uma plataforma de conexão de marcas com a arte,” diz.
Há um ano, Brenda pôs no ar uma galeria online, dedicada à comercialização das obras exibidas na ArtRio, a primeira iniciativa do gênero associada a uma feira de arte no País. “Ainda não temos tantas vendas, mas temos muitos acessos, o que é bom, aproxima as pessoas da arte com transparência.”
Brenda vem de uma família cujo sobrenome já foi sinônimo de cinema no Rio de Janeiro. Começando nos anos 50, os Valansi, de origem francesa, administraram inúmeras salas de exibição da cidade, como o histórico Cine Paissandu (no Flamengo), o charmoso Cine Joia (batizado em homenagem à matriarca Jóia Valansi) e o Orly.
O cinema de rua virou coisa do passado, mas a cultura ainda corre no sangue da família.
“A ArtRio é um ponto de encontro de artistas, moldureiros, estudantes, galeristas. Nesta edição conseguimos ampliar nosso potencial. Em 2020 vamos expandir mais ainda,” diz ela.