NOVA YORK — Em 1932, família Rockefeller encomendou ao muralista mexicano Diego Rivera a pintura de um fresco no térreo de um edifício de 66 andares do Rockefeller Center, o complexo icônico no centro de Manhattan. 

O título da obra era “Man at the Crossroads”, e o mural seria composto por três painéis: o do meio mostrava máquinas dominadas por homens, enquanto as laterais retratavam o capitalismo de um lado e o socialismo do outro. 

O rascunho inicial foi aprovado pela família, que sabia que Rivera era um marxista roxo. 

Diego dispunha de seis artistas assistentes e por quase dois anos tudo ia às mil maravilhas. Até descobrirem a imagem de Lênin infiltrada no painel direito. No esquerdo, figurava ainda uma pintura do patriarca John D. Rockefeller bebendo martinis. Gentilmente convidado por Nelson Rockefeller a retirar a imagem de Lênin, o mexicano, então casado com Frida Kahlo, bateu o pé e anunciou que preferia a obra destruída a remover a pintura. E assim foi. 

Em 1934, o mural foi arrancado das paredes. Já prevendo o embate, Rivera fotografou sua obra e, anos mais tarde, a reproduziu no Palacio de Bellas Artes, na Cidade do México, dando-lhe o nome de “Man, Controller of the Universe”.

A partir desta segunda-feira, os rascunhos aprovados de “Man at the Crossroads,” estarão de volta a Nova York, assim como uma reprodução gigantesca da segunda versão do mural.
 
O material faz parte da mostra “Vida Americana: Mexican Muralists Remake American Art, 1925-1945”, que ocupa todo o quinto andar do Whitney Museum of American Art e fica em cartaz até 17 de maio. 

Acompanhadas por textos bilíngues, cerca de 200 obras de 60 artistas mexicanos e americanos revelam a imensa influência que os vizinhos do sul tiveram sobre seus contemporâneos do norte ao longo destas duas décadas, incluindo Jackson Pollock, Philip Guston e Thomas Hart Benton.  

“O legado dos muralistas mexicanos foi amplamente excluído da narrativa da arte moderna americana”, disse ao Brazil Journal a curadora Barbara Haskell, que se apoiou em quase dez anos de pesquisa acadêmica e grande colaboração internacional. “Além da similaridade dos temas, americanos e mexicanos dividiam a idéia de que a arte deve ser pública, e não uma commodity reservada a poucos.”

A mostra coloca holofotes sobre este capítulo perdido, reunindo pinturas, frescos portáteis, filmes, esculturas, fotografias, gravuras, desenhos e reproduções de murais intransportáveis, e dividindo-se em nove temas. O primeiro é o “Nacionalismo Romântico e a Revolução Mexicana”: além de Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, juntos chamados de “Los Tres Grandes”, encabeçavam o movimento artístico de um México saído de uma revolução movida por reforma agrária que se estendeu de 1910 a 1920, depois de três décadas de ditadura. 

Ao fim da revolução, liderada por Zapata, o novo governo do México passou a enaltecer sua identidade, apagada pela elite que dominava o país pré-revolução e só tinha olhos para a Europa. Contratados pelo governo, artistas deram cores aos indígenas, histórias, paisagens e cotidiano em pinturas e murais colossais. Em 1924, novas eleições, e a festa acabou. O novo governo suspendeu a verba e muitos artistas partiram para os Estados Unidos. 

Na época, os americanos encontravam-se devastados pela Grande Depressão, tentando reencontrar sua arte. Ao espelharem-se nos muralistas — e não nos europeus — os americanos aprenderam a ilustrar temas sociais e políticos. Enquanto pintores negros como Aaron Douglas e Charles White inspiraram-se na luta pela justiça social retratada pelos mexicanos, o intercâmbio também ocorreu na Cidade do México, onde um grupo de artistas mexicanos e americanos, supervisionados por Rivera, trabalharam juntos nos murais do Abelardo Rodríguez, um mercado central criado nos anos 30 para substituir as feiras de rua.

 
O jovem Pollock, por exemplo, ia atrás das obras de Orozco e Siqueiros. Em 1936, o americano participou de um workshop que Siqueiros ministrou em Manhattan, onde experimentaram técnicas não convencionais, como jogar tinta sobre telas estendidas no chão, algo que tornaria Pollock mundialmente famoso uma década mais tarde. 

Nesta mostra, obras de Pollock figuram lado a lado com as de Orozco. Segundo Haskell, a semelhança entre os estilos é tão gritante que mal precisaria de legendas. 

 
O principal patrocinador de Vida Americana é a Jerome L. Greene Foundation, com apoio do Citigroup, Banamex, Delta e Aeromexico.
 
Na foto acima, Man at the Crossroads (1934).
Abaixo, Marion Greenwood, Industrialization of the Countryside (1935–36).
 
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