Joesley BatistaNos últimos meses, alguns investidores começaram a minimizar o ‘risco político’ da JBS — a empresa sempre foi vista como muito próxima do Governo Lula e, esses investidores acreditavam, poderia ser envolvida em um escândalo a qualquer momento.

No lugar do medo, apareceu a ganância:  uma reorganização societária proposta pelos irmãos Batista em maio pode fazer o valor da empresa dobrar.

Como parte da reorganização, a JBS pretende transferir seus negócios fora do Brasil — bem como a Seara — para uma nova empresa chamada JBS Foods International, que seria sediada na Irlanda e listada na Bolsa de Nova Iorque. Cerca de 80% da geração de caixa atual da JBS ficarão debaixo da nova empresa, que teria acesso a capital mais barato (por conta de seu novo CEP) e provavelmente negociaria nos mesmos múltiplos das concorrentes americanas.

“Não há ‘desconto Lava Jato’ para uma empresa dos Batista listada nos EUA,” um investidor internacional (gigante), animado com a reorganização, disse ao Brazil Journal no final da semana passada.

Que diferença uma Lava Jato faz.

A Operação Greenfield, deflagrada hoje pela Polícia Federal para apurar desvios de mais de R$ 8 bilhões em fundos de pensão estatais, atingiu em cheio o grupo J&F, a holding que os Batista usam para controlar a JBS.

A investida da PF contra o grupo veio por conta de suspeitas sobre a Eldorado, empresa de celulose na qual a Petros e a Funcef são sócios dos Batista com uma fatia de 17%.  A JBS, que recebeu bilhões de reais em empréstimos do BNDES no governo Lula, não aparece diretamente como investigada.

No golpe mais duro até agora contra a família, que já chegou a ser citada em outras investigações derivadas da Lava Jato, o juiz Vallisney de Souza Oliveira incluiu Wesley e Joesley Batista no rol de 40 executivos que estão suspensos de “toda e qualquer atividade no mercado financeiro e no mercado de capitais, bem de qualquer cargo ou função de direção em empresa ou grupo empresarial”.

Quando o pregão terminou, as ações da JBS haviam despencado mais de 10% com o dobro do volume normal, a mais recente demonstração de que a proximidade com Brasília, até recentemente considerada um trunfo, virou um passivo gigantesco no mundo corporativo pós-Moro. 

Para os Batista, o timing não poderia ser pior.

Wesley BatistaO pedido de registro da JBS Foods International foi arquivado na SEC no começo de agosto – mas, agora, com seus dois principais executivos oficialmente citados, há dúvidas no mercado se a transação vai prosseguir. Uma listagem nos EUA implica adesão à Sarbanes-Oxley, com critérios rigorosos de governança, além do próprio Foreign Corrupt Practices Act (FCPA).

Após a conclusão da reorganização, a JBS terá seu nome alterado para “JBS Brasil” e permanecerá como companhia de capital aberto listada na Bovespa. A JBS Brasil continuará detentora dos negócios de carne bovina no Brasil, de biodiesel, de colágeno e a transportadora, bem como outros negócios, além da divisão global de couros. 

Uma comparação com a Pilgrim’s Pride, empresa americana de carne de frango na qual a JBS tem 75% de participação, dá uma noção de quanto a JBS tem a ganhar criando a nova empresa fora do Brasil. 

Enquanto a Pilgrim’s, que faturou US$ 8 bilhões em 2015, vale US$ 6 bilhões em Nova Iorque, a JBS inteira, que teve receita de R$ 162 bilhões do ano passado, vale apenas US$ 10 bilhões.

Um investidor americano disse ao Brazil Journal que a JBS tem sinalizado que a JBS International terá um conselho de administração completamente independente, sem maioria dos Batista.  Em junho, a JBS contratou Russ Colaço, ex-banqueiro do Morgan Stanley, para ser o CFO da nova empresa — a JBS é conhecida por grandes operações cambiais e operações nos mercados futuros. (No geral, os investidores locais permanecem céticos quanto a uma governança independente numa empresa que sempre foi muito centralizada.)

“O porte da JBS daria respaldo para que ela entrasse no S&P 500 em pouco tempo, o que a colocaria no radar de fundos passivos e ETFs e teria potencial para aumentar em muito o valor”, avalia um gestor de ações brasileiro.

Desde que a Lava Jato começou e seus controladores foram citados, a JBS já teve que dar ’n’ explicações de que ‘não está envolvida’, ‘não foi citada’ e afirmações assim. Com isso, o risco judicial há muito tempo passou a impedir, na prática, que muitos gestores comprem a ação para seus fundos. 

“Meus cotistas são muito refratários ao risco Lava-Jato, e é difícil explicar todos esses soluços que mexem com o papel”, disse um deles.

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NOTA DA J&F

“O grupo J&F, com 63 anos de história, 150 mil colaboradores e 50 mil fornecedores no Brasil, reitera que sempre esteve à disposição das autoridades e que sua relação com os fundos de pensão sempre se pautou pela ética e pela impessoalidade.

Informamos que a participação de Petros e Funcef na Eldorado Celulose vale hoje cerca de R$ 3 bilhões, segundo laudos de duas renomadas auditorias independentes. Esse valor é cerca de seis vezes maior do que o investido por eles em 2009, que foi de R$ 550 milhões.

Lamentamos a forma pela qual a companhia foi exposta. Estamos empenhados para impedir que isso venha a causar prejuízos a nossos colaboradores, suas famílias, parceiros e investidores.

Estamos confiantes de que, juntos, trabalharemos pela continuidade do crescimento sustentável da J&F e de todas as suas empresas.”