Das mais de 100 empresas listadas no Novo Mercado, 70% não tem nenhuma mulher no board.
Repetindo: Se-ten-ta por cento.
E nos conselhos que possuem alguma presença feminina, as mulheres ocupam menos de 8% dos assentos.
O cenário é alarmante no Brasil: estamos atrás de boa parte dos países (a média global é de 12,5%), o quadro não avança há anos e, até agora, não dava nenhum indício de que mudaria tão cedo.
Mas pelo menos duas executivas estão fazendo algo a respeito.
Anna Guimarães, conselheira da Viver Incorporadora, e Olívia Ferreira, CEO da empresa de recrutamento Enlight, trouxeram ao Brasil o 30% Club, um movimento fundado em 2010 no Reino Unido e que advoga uma maior participação das mulheres nos conselhos de administração.
A ideia é que a iniciativa parta das próprias companhias, que assumem um compromisso formal (e público) de ter ao menos 30% de seu board composto por mulheres num determinado prazo. Hoje, o movimento está presente em 13 países.
Além das empresas, o 30% Club tem o apoio de gestoras, consultorias de recursos humanos e empresas de auditoria.
Na prática, o ‘clube’ funciona como uma rede espontânea de influência em que cada membro estimula outros CEOs e presidentes de conselho a aderir à causa.
A fórmula tem dado certo.
Em 2012, quando o movimento deu a largada no Reino Unido, as mulheres ocupavam só 12% das cadeiras dos conselhos das 100 maiores empresas britânicas. Em seis anos, a fatia chegou nos 30%.
Segundo Anna, o 30% Club chega ao Brasil com duas metas. Primeiro: garantir que todas as companhias listadas no Novo Mercado tenham ao menos uma mulher no board. Segundo: transformar os 8% em 30% até 2025.
“Os conselhos precisam ser diversos em todos os sentidos: com pessoas que conheçam do setor, outras que entendem de finanças, inovação e governança. Mas também com pessoas de gêneros diferentes”, a executiva disse ao Brazil Journal. “É uma questão de competências diferentes e complementaridade.”
Em poucos meses, o grupo conquistou o apoio de gestores como Previ, Petros, a inglesa Hermes Investment Management (que administra o fundo de pensão da velha British Telecom) e a Leblon Equities.
Ainda que o movimento esteja encontrando simpatia de alguns chairmen e CEOs de empresas — Alessandro Carlucci, presidente do conselho da Arezzo, e Carlos Takahashi, CEO da Blackrock no Brasil, são dois exemplos — nenhuma companhia teve peito ainda para aderir formalmente à causa.
Segundo Anna, os chairmen das 10 maiores empresas do Brasil foram convidados a integrar o conselho consultivo e a expectativa é que até o fim de março — quando ocorrerá o lançamento oficial do movimento — o board já esteja formado, com ao menos três das maiores empresas representadas.
A maior diversidade nos conselhos não tem a ver apenas com igualdade de gênero, mas também com geração de valor.
Um estudo de 2015 feito pela MSCI mostrou que empresas com forte presença feminina em cargos de liderança geram um retorno patrimonial maior do que aquelas sem nenhuma mulher nessas funções. Outra conclusão: as companhias com pouco diversidade no conselho sofrem mais que a média com problemas relacionados à governança.
“O grande desafio do movimento é conseguir aproximar as oportunidades abertas nos conselhos das mulheres que atuam na área”, diz Anna. “O que os chairmen das empresas brasileiras falam é que não trazem mulheres porque conhecem poucas que atuem nessas funções. Quando conseguirmos aproximar essas duas intenções será fácil aumentar esses 8%.”
Empresas interessadas em aderir ao 30% Club podem enviar um email para: aguimaraes@30percentclub.org