O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Neon, causando consternação no ecossistema de fintechs do qual o banco havia se tornado um dos cartões de visita.
Mas o que à primeira vista parece um indiciamento das novas plataformas é, na verdade, um problema com um banco tradicional.
O Neon opera sob a carta patente do antigo Banco Pottencial, um banco de Belo Horizonte que fez um acordo operacional com a empresa Neon Pagamentos (antiga Controly), do empreendedor Pedro Conrade.
Este acordo operacional “mistura” e confunde as pessoas jurídicas envolvidas, mas o BC foi taxativo ao dar um atestado de ‘nada consta’ à Neon Pagamentos, que o regulador definiu como “uma empresa de tecnologia que presta um serviço de conta-pagamento e de cartões pré-pagos” ao Banco Neon.
“Nenhuma fintech está sendo liquidada, e inclusive todas as operações da Neon Pagamentos estão sendo preservadas,” o Banco Central disse ao Brazil Journal. “Ela é livre para buscar outras parcerias com outras instituições financeiras.”
Segundo o BC, Conrade “não tem nem uma ação do Banco Neon. São os controladores do Neon que têm uma participação minoritária na Neon Pagamentos.”
O anúncio da decretação veio horas depois da Neon Pagamentos anunciar que recebera R$ 72 milhões numa nova rodada de capital. O fato deste aporte ter sido amplamente reportado na imprensa como um aporte no “Banco Neon” causa confusão, disse o BC. O aporte sequer teve que ser aprovado pelo BC porque a Neon “não é uma instituição financeira regulada pelo banco, e sim uma empresa de tecnologia.”
O aporte na Neon Pagamentos veio dos investidores Propel Ventures, Monashees, Quona, Omydiar Network, Tera Capital, family office do Patria Investimentos, e a Yellow Ventures.
Já no Banco Neon — antigo Pottencial — o BC disse que sua supervisão constatou “o comprometimento da situação econômico-financeira, bem como a existência de graves violações às normas legais e regulamentares que disciplinam a atividade da instituição.”
Os controladores do Neon são Argeu de Lima Geo, Carlos Geo Quick e João de Lima Geo Filho.
O BC não quis detalhar as irregularidades encontradas, alegando sigilo bancário. “Isso agora vai para o Ministério Público, vai ter processo administrativo punitivo…”
Num momento em que a comunidade de fintechs tem aumentado, na margem, a concorrência no sistema bancário, o anúncio de hoje já começou a fomentar as teorias da conspiração.
Em grupos de Whatsapp, empreendedores e pessoas do mercado financeiro debatiam o assunto, cada um puxando a sardinha para sua narrativa. Os fãs dos bancos tradicionais usavam o episódio para dizer “Viu como essas fintechs não são confiáveis”? Já os empreendedores de tecnologia viam na liquidação extrajudicial um movimento do BC para “ajudar” os bancões.
Na era das fake news, hoje é só mais um dia comum.
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