Não é só no Brasil que o sistema de saúde suplementar precisa ser repensado — mas na China, Jack Ma parece ter encontrado uma solução.
A Ant Financial, braço de pagamentos do Alibaba, está operando seu próprio programa de assistência médica: em apenas seis meses, o plano já atraiu mais de 50 milhões de usuários, segundo a Bloomberg.
O produto, chamado Xiang Hu Bao, o mesmo que “Proteção Mútua”, não é exatamente um plano de saúde. Na realidade, funciona como uma espécie de consórcio: sempre que um dos participantes tiver alguma doença grave e necessitar tratamento, todos os membros contribuem com um pequeno valor para cobrir as despesas.
A adesão é gratuita, e não há nenhum down payment. Qualquer chinês (que tenha de 30 dias a 59 anos e um bom score de crédito) pode aderir ao programa. A cada pagamento, a Ant fica com uma taxa de 8%.
“Esse modelo é igual ao que era usado centenas de anos atrás pelos planos de saúde”, um analista de Hong Kong disse à Bloomberg. “Eles estão voltando ao básico.”
A investida da empresa vem num momento em a China enfrenta o rápido envelhecimento de sua população e um crescimento expressivo na taxa de doenças graves. Ao mesmo tempo, o governo tem tido dificuldade para fornecer cobertura médica ao 1,4 bilhão de chineses.
O plano da Ant é ocupar essa lacuna.
Dada a escala do negócio, quando um usuário é acometido de uma doença grave cada membro da rede paga no máximo 0.1 yuan (ou US$ 0,015) para cobrir o tratamento, fazendo do plano uma alternativa boa e barata para as classes mais carentes. Hoje, um terço dos membros são de regiões rurais pobres, enquanto quase metade são trabalhadores migrantes.
A meta é cobrir 20% da população do país (300 milhões de usuários) nos próximos dois anos, usando a base gigantesca de usuários do Alipay para dar escala ao negócio.
Por enquanto, o programa cobre uma lista de cerca de 100 doenças e os pagamentos podem ser descontados diretamente da conta dos usuários do Alipay.
Quem tiver uma doença grave nos primeiros 90 dias de adesão não recebe compensação.
Quando surgem disputas sobre o pagamento do sinistro, um júri de centenas de milhares de usuários pré-aprovados vota e decide se o consórcio paga ou não o tratamento.
A investida de Ma não é a única no setor. Recentemente, uma onda de startups tem tentado reinventar a forma como os planos de saúde funcionam na China.
Uma das principais é a Waterdrop, que tem a Tencent como investidor. A empresa — que opera no ecossistema do WeChat — tem três linhas de negócio: uma que oferece serviços para empresas seguradoras; outra que funciona como uma plataforma de crowdfunding para pessoas que precisam de ajuda para o tratamento de doenças graves; e um negócio semelhante ao da Ant chamado Waterdrop Mutual.