A Crescera Capital, a gestora anteriormente conhecida como Bozano Investimentos, está levantando um novo fundo de venture capital de R$ 600 milhões — num momento de liquidez abundante para ativos de risco e em meio a quatro saídas de sucesso da gestora.
O Crescera Venture Fund III quer investir em até quinze empresas de tecnologia em segmentos como saúde, educação e serviços financeiros.
“O ‘early stage’ já está muito saturado no Brasil, mas há uma escassez de fundos de ‘growth’,” Fernando Silva, o gestor da Crescera, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, o objetivo do fundo é buscar o que ele chama de “cabras da montanha” — as startups resilientes e que conseguem escalar a montanha até o topo, mas que não necessariamente chegarão ao ‘status’ de unicórnio. O termo — que já foi incorporado no vocabulário das startups — foi cunhado pelo próprio Fernando, que usou a expressão pela primeira vez numa palestra da Fiesp em 2016.
O veículo é o terceiro e maior fundo de VC da Crescera, fundada em 2013 pelo agora Ministro da Economia Paulo Guedes e outros seis sócios. (Guedes vendeu sua participação no final de 2018 para assumir o cargo público).
Até agora, a Crescera havia levantado R$ 186 milhões para o Criatec II, que já está na fase de desinvestimento, e outros R$ 65 milhões para o Education Ventures.
O Crescera Venture Fund III vai investir principalmente em rodadas Série B e C e fará cheques de R$ 30 milhões a R$ 70 milhões. O prazo é de 10 anos (cinco para investimentos, cinco para desinvestir) e a gestora quer entregar um retorno de 3x a 5x o capital inicial, em linha com seus fundos anteriores.
O Itaú começou a distribuir o fundo no seu private e wealth management esta semana, mas outras plataformas também terão o produto em breve.
Como os sócios da Crescera aportaram 10% do capital almejado, o fundo já está em conversas com startups para fazer seus primeiros investimentos.
Nos últimos quatro meses, a Crescera fez quatro saídas bem sucedidas: a venda da Bling e da Vindi para a Locaweb; da Konduto para a Boa Vista; e da Passei Direto para o UOL Edtech.
Fernando diz que o retorno da Crescera com a venda da Bling pode chegar a quase 60x caso os ‘earnouts’ sejam atingidos (sem o ‘earnout’, o múltiplo cai para perto de 40x). Na Vindi e na Konduto, a gestora multiplicou o capital por 10x.
O novo fundo faz parte de uma mudança na estratégia da Crescera, que desde a saída de Guedes decidiu focar mais em tecnologia, mesmo em seus fundos de private equity.
No ano passado, um fundo de PE da Crescera liderou a rodada de R$ 550 milhões na Nelogica, a dona da ferramenta de análise técnica Profit. A gestora também comprou uma participação na Semantix, uma empresa de ‘big data’ que planeja fazer seu IPO na Nasdaq num prazo de 2 a 3 anos.
Dentro dessa reestruturação, a Crescera vendeu em 2019 para a XP todos os seus fundos líquidos, incluindo os de ações, crédito privado e quantitativos.
A Crescera tem R$ 5 bilhões sob gestão divididos em cinco fundos.