Recém mudado do México para o Brasil, Daniel Vogel se surpreendeu quando a moça que vende balas no farol colocou na embalagem: aceito PIX.
“O crescimento do PIX é a prova mais cabal de como as fintechs podem mudar o status quo,” Vogel, o fundador da plataforma de criptomoedas Bitso, disse ao Brazil Journal. “O Brasil é um mercado gigante, e quando pensamos na indústria de cripto achamos que o que está acontecendo agora é só a ponta do iceberg.”
Não são só palavras. Daniel está direcionando boa parte dos recursos da Bitso — mais especificamente, R$ 1,5 bilhão — para executar essa visão de crescer no Brasil, onde vai bater de frente com o Mercado Bitcoin, que começou há oito anos.
A Bitso tem munição: em maio, ela levantou R$ 1,3 bilhão numa rodada liderada pela Tiger e pelo Coatue. Outros investidores incluem QED, Kaszek, Valor Capital e o Paradigm, um dos ‘crypto VCs’ mais ativos do mundo, baseado em São Francisco.
Vogel disse que pretende investir os recursos nos próximos 12 a 18 meses para melhorar a tecnologia da plataforma, lançar novos produtos e aumentar o time local.
A Bitso já contratou 70 funcionários desde o fim do ano passado (de um total de 400 no mundo) — e vai continuar recrutando.
A plataforma entrou no ar no Brasil no final de maio.
“Me mudei para cá porque achamos que, no médio prazo, esse vai ser o nosso mercado mais importante,” disse Daniel, que fundou a Bitso em 2014 no México. A exchange de criptomoedas, que também opera na Argentina, já tem 2,5 milhões de clientes e é a líder disparada de mercado em seu país natal.
Como a operação é recente, a Bitso não abre o número de clientes que já tem no Brasil, mas Vogel disse em maio que esperava chegar a 1 milhão em um ano.
O maior risco da tese tem nome e sobrenome: Mercado Bitcoin.
Líder absoluto no Brasil, o Mercado Bitcoin também tem bolso fundo — e acaba de ganhar um apoiador de peso. A startup brasileira levantou US$ 200 milhões numa rodada liderada pelo Softbank, que ficou com 10% da empresa.
Daniel diz que a Bitso se diferencia em algumas frentes.
Segundo ele, a plataforma é mais amigável e fácil de usar; o serviço de atendimento ao consumidor oferece pontos de contato em múltiplos canais; e a Bitso é a única exchange da América Latina regulada e com licenças na Europa.
“Nós enxergamos o mercado cripto muito além dos investimentos. Temos a exchange [para comprar e vender criptomoedas] como o Mercado Bitcoin, mas no México e na Argentina já temos muitos outros produtos e serviços que vão além disso,” disse ele.
No México, a Bitso tem um serviço de envio de remessas de recursos para capturar o fluxo de recursos que imigrantes mexicanos mandam para suas famílias. Dos US$ 40 bi enviados ano passado, US$ 1,3 bi passaram pela plataforma da Bitso — 2,5% do total.
Na Argentina, ela lançou uma conta que remunera os recursos do cliente com juros.
Esses dois produtos ainda não existem no Brasil, mas a Bitso já lançou um serviço de depósitos e saques por PIX, e uma solução de transferência de dinheiro peer-to-peer e em tempo real dentro da plataforma — semelhante ao do PicPay.