A Trybe acaba de ser avaliada em R$ 1,3 bilhão numa rodada que vai permitir à escola de programação — conhecida por seu modelo de “sucesso compartilhado” — aumentar seu portfólio de cursos e fortalecer sua vertical de fintech.
A rodada Série B, de R$ 145 milhões, foi liderada pela BasePartners, de Fernando Spnola — que já investiu no Nubank, Wildlife, ByteDance e Zoom — e pela Untitled, a gestora americana fundada por Neeraj Chandra, um ex-managing partner da Tiger Global.
Também investiram: XP, Verde Asset, Endeavor Scale Up Ventures e Hans Tung (o managing partner da GGV Capital), bem como a Global Founders e a Luxor, que já haviam investido na Trybe antes.
Fundada em 2019, a Trybe cresceu com um modelo que permite que os alunos comecem a pagar o curso apenas depois de estarem empregados na área e recebendo mais de R$ 3 mil/mês. Esse tipo de financiamento é conhecido nos EUA como “income share agreement”, mas a Trybe tropicalizou o nome para “sucesso compartilhado”.
O modelo alinha os interesses e faz com que a Trybe atue ativamente para ajudar seus alunos a se empregarem depois de formados.
Num país com déficit de programadores e um exército de desempregados, a estratégia caiu como uma luva: a Trybe já formou mais de 400 profissionais e hoje tem uma base de 2,2 mil alunos ativos, 80% dos quais estudam com o modelo de pagamento diferido.
Quase 200 mil pessoas já se inscreveram para tentar fazer o curso da empresa — uma taxa de aprovação de pouco mais de 1%.
Uma das incertezas sobre o modelo de negócios da Trybe é como seu book de recebíveis vai performar ao longo do tempo.
Com sete turmas formadas, a empresa começou agora a ter os primeiros dados de desempenho da carteira.
“Normalmente, 80% da turma já está empregada no dia da formatura e 94% dos alunos conseguem um emprego em até 90 dias após o término do curso,” Matheus Goyas, o fundador da Trybe, disse ao Brazil Journal. “Entre os que estão empregados, tivemos zero de inadimplência até agora.”
O modelo é um belo atrativo na captação de alunos, mas gera um problema de fluxo de caixa: a Trybe precisa arcar de imediato com os custos fixos dos cursos, mas a receita só começa a pingar na conta depois de um ano.
Para resolver esse descasamento, a startup levantou um FIDC de R$ 50 milhões junto com a gestora Milênio, retendo as cotas subordinadas. Com isso, ela consegue antecipar esse fluxo de recebíveis ao mesmo tempo em que continua com o risco do negócio no balanço.
Parte dos recursos da rodada vai bancar uma nova emissão desse FIDC, que também alimentará outras linhas de financiamento que a empresa pretende lançar. A startup quer ampliar sua vertical de fintech passando a oferecer também um financiamento tradicional, bem como uma conta digital restrita a seus alunos.
A Trybe também pretende aumentar seu portfólio de cursos. Desde sua fundação, a startup oferece apenas um — desenvolvimento web — e agora quer ensinar também desenvolvimento mobile, backend, frontend, data analytics, cibersegurança e engenharia de dados.
“Queremos ser uma escola completa de carreiras em tecnologia, mas sem comprometer a qualidade e a UX que criamos no curso original,” disse Matheus.
O plano é começar a lançar um novo curso por trimestre a partir do segundo trimestre de 2022. Com os novos cursos, a Trybe espera chegar em dezembro do ano que vem com entre 6.000 e 7.000 alunos.
O terceiro uso dos recursos será na Jungle Devs, a empresa adquirida em junho pela Trybe.
A Jungle atende empresas internacionais em diversos projetos de programação. Para isso, contrata desenvolvedores em início de carreira para trabalhar com ela por 4 anos numa espécie de residência — 70% do tempo o programador trabalha nos projetos, e no restante recebe treinamentos de inglês, liderança e outras skills.
Na prática, a Jungle é um complemento à formação da Trybe: depois de fazer o curso, o aluno da Trybe pode aplicar para a Jungle, onde dará continuidade a sua formação com uma experiência prática.
O plano da Trybe é investir na ampliação da equipe comercial da Jungle, para que ela consiga captar mais clientes e projetos. Hoje, o negócio já responde por 15% da receita da startup.