Empresários com trânsito no PT acham que a escolha do próximo Ministro da Fazenda tem uma dinâmica singular.
Para eles, ao fazer circular nomes como o de Luiz Carlos Trabuco e Henrique Meirelles — excepcionais na perspectiva dos investidores mas com baixa probabilidade de aceitarem o convite — o Governo ganha pontos por mostrar boa vontade com o mercado financeiro.
Mas depois da narrativa deste candidato ‘dos sonhos’, o nomeado deve acabar sendo alguém com um perfil mais burocrático.
Hoje, estas pessoas apostam em Nelson Barbosa, o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e que mantém bom relacionamento com Dilma e Lula.
Neste momento, o perfil do sucessor de Guido Mantega tem o seguinte checklist:
( ) alguém afinado com a política econômica atual mas com um olhar crítico;
( ) que faça uma transição sem ‘massacrar’ Mantega;
( ) que tenha uma química boa com Dilma;
( ) que agrade a Lula;
( ) que agrade ao mercado.
Barbosa preenche todos os requisitos acima. É uma figura ‘neopalocciana’: um sujeito afável, razoável, com bom trânsito junto ao mercado. Outra credencial importante: Barbosa saiu da Fazenda por discordar da contabilidade criativa patrocinada pelo Secretário do Tesouro, Arno Augustin. A questão fiscal hoje é o cerne da desconfiança do mercado em relação ao Governo Dilma.
Mas o pulo do gato na nomeação seria o nome do No. 2 na Fazenda: alguém com experiência em Wall Street.
A secretaria executiva da Fazenda é uma das cadeiras mais poderosas na hierarquia do Governo. Seu ocupante interage muito com empresários e com o mercado financeiro.
A escolha de um executivo com este perfil de mercado para o cargo No. 2 (e não para o No. 1) evitaria a impressão de que Dilma ‘se curvou’ ao mercado, e ainda assim reforçaria a mensagem construtiva junto aos investidores.
O atual secretário executivo, Paulo Caffarelli, muito provavelmente deve ser deslocado para o comando do Banco do Brasil, cujo atual presidente, Aldemir Bendine, perdeu apoio político.
Voltando ao ‘dream team’ do mercado… no Bradesco acredita-se que a chance de Luiz Carlos Trabuco aceitar um eventual convite é mínima.
O motivo: Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho do banco, deve se aposentar nos próximos anos, e já teria escolhido Trabuco como seu sucessor.
Só quem conhece a cultura do Bradesco sabe o que significa ocupar o lugar do “seu Brandão,” ele próprio o sucessor de Amador Aguiar, o lendário fundador do banco.
Boa parte do PIB defenderia a tese de que o cargo é tão importante quanto o Ministério da Fazenda — e sem as mazelas da exposição pública diária.
Para o mercado, Trabuco seria um dos nomes mais completos: tem experiência prática de como o País funciona, uma visão racional de economia, é independente e cultiva excelentes relações no mundo corporativo e político.
Mas não deve ser desta vez.
Barbosa também traria credibilidade e boa vontade. Se sua nomeção se confirmar, a única dúvida será o seu grau de autonomia em relação a quem, até hoje, sempre foi a Ministra da Fazenda de fato. Mas isso, provavelmente, o Brasil só vai saber com o tempo.
“Não basta só trocar o ministro,” diz um economista crítico em relação à política econômica atual. “O tamanho do desafio é tão grande que tem que ser uma decisão dela de trocar o seu círculo íntimo. É a equipe toda.”