Uma cena real, sobre coisas surreais.
Cenário: salão de hotel luxuoso em São Paulo.
Numa manhã recente, três comensais debatem a política e a economia entre goles de espresso e fatias de baguete.
– Repórter de Grande Veículo Nacional (RGVN). Brasileiro nato.
– Investidor Internacional com Larga Experiência em Mercados Emergentes (IILEMM). Norte-americano nato.
– Corretor de Banco Internacional Trazendo Investidor ao Brasil (CBITIB). Brasileiro nato, vivendo em Nova York.
IILEMM: Vai ter impeachment?
RGVN: Não sei. A resposta é que ninguém sabe. Um velho político mineiro dizia que a política é como nuvem: você olha num momento e ela está de um jeito, daqui a pouco está de outro. Tudo pode acontecer. Hoje, parece que não vai acontecer nada. Estamos condenados a mais três anos de um Governo sem ideias, sem credibilidade e sem capital político. E o dinheiro acabou.
IILEMM: Mas e o… Miei…reelless? Não é uma opção?
RGVN: Sim, ele é e sempre será uma opção. Mas me parece que o momento passou. Ele só entra se a Presidente se enfraquecer ainda mais, como se isso ainda fosse possível (e parece que é). Se chegarmos a esse ponto e ela se convencer que nomear o Meirelles seria a salvação do seu Governo, talvez ela engolisse o sapo.
IILEMM: Hm…. (parecendo desapontado)
CBITIB: Eu nem sei se o Meirelles quer ir mesmo, sabia?
RGVN: Eu acho que ele gosta de ser visto como alguém que pode ir a qualquer momento.
IILEMM: Mas o Brasil não tem senso de urgência… Vocês já desperdiçaram aquele mega ciclo de alta das commodities, e daqui a pouco terão a demografia contra vocês (o Brasil terá mais aposentados do que gente na ativa). Desse jeito, vocês nunca chegarão a ser uma economia desenvolvida. Economia também é demografia!
RGVN: Eu até vejo essa urgência de que você fala… Ela existe no meio empresarial — ok, em setores do meio empresarial — mas inexiste na classe política, que a cada legislatura bate novos recordes de mediocridade. A grande maioria dos deputados só pensam na próxima eleição, em como arranjar um milhão aqui e ali. Eles não tem ideia do que seja o tal do ‘problema fiscal’ — e nem querem saber. É gente paroquial, voltada pros seus interesses locais ou pessoais, que não pensam no projeto de País. Todo mundo sabe o que tem que ser feito, mas para passar qualquer coisinha sensata lá, é um sufoco.
IILEMM permanece mudo. Olha fixamente para a xícara, misturando o café, entediado, com cara de quem já ouviu tudo aquilo antes (provavelmente, dezenas de vezes).
RGVN: Olha.. Sabe o que essa Presidente podia fazer para mudar a narrativa? São coisas tão simples… Ela podia dizer amanhã, ‘vou privatizar os Correios’, que vão fechar este ano com um rombo para os cofres públicos de 900 milhões de reais. Só de fazer isso, já indicaria uma boa vontade em achar soluções, em vez de só insistir na volta da CPMF. Além do que, ninguém mais manda carta, e se a esquerda alegar ‘valor estratégico’, teriam que estatizar a internet para ser coerentes.
IILEMM: Você não entende…. (ILEMM se anima, apruma o corpo e agora fala com vigor.) Esses trotskistas são assim… Eles não constroem nada, são destrutivos por natureza. É algo no processo mental deles. Essa Presidente foi destruindo cada coisa que tinha sido construída antes, passo a passo: o setor elétrico, depois a Petrobras, e finalmente a parte fiscal, o regime de metas de inflação… Entenda: ela não vai mudar. É uma força maior do que ela.
RGVN: Você vai à Argentina?
IILEMM: Acabei de voltar de lá e estava claro que o Macri ia ganhar. Agora estava lendo as especulações sobre os nomes do time econômico dele. Só gente de primeira. A coisa lá vai andar, viu? Ele vai liberar o câmbio, e é claro que você vai ter uma grande desvalorização, talvez uns 30%. Mas por outro lado, os campesinos (o agronegócio) vai voltar a exportar e ganhar muito dinheiro com a soja, e vai haver um enorme fluxo de capitais entrando. Olha, eu espero que a Argentina dê a confiança que as pessoas no Brasil precisam pra colocar esse País no rumo de novo.
Agora é RGVN quem olha fixamente para a xícara, imaginando o País que poderia ter sido, e lamentando o imenso tempo perdido. O café já está frio. O garçon lhe toca o ombro. A conta chegou.
Pano rápido.