O diagnóstico é do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e hoje sócio do Banco BTG Pactual, Nelson Jobim.
Numa exposição de cerca de 30 minutos para clientes do banco hoje em São Paulo, Jobim disse: “Temos que desobstruir o diálogo de centro, e isso significa conversar com todo mundo. A quem interessa que o diálogo não aconteça? Aos dois candidatos polarizados.”
Jobim disse que a candidatura de João Dionísio Amoedo pelo Partido Novo “consolida o partido, mas racha o centro”, e criticou João Dória por sua “tentativa de furar a fila, algo que não se faz em política.” Jobim notou o esvaziamento rápido de Dória, mas disse que o prefeito “ainda pode ser atraído por algum partido.”
Para o ex-deputado constituinte, ex-ministro do STF e ex-ministro da Defesa de Lula, a polarização atual e a fragmentação do centro podem levar o Brasil a uma situação análoga à da eleição para prefeito do Rio de Janeiro, na qual Marcelo Freixo e Marcelo Crivella se enfrentaram no segundo turno — e o último venceu.
Jobim deu nome à dificuldade de se construir uma candidatura de centro.
“Há uma variável nova no processo político brasileiro — o ódio,” disse o peemedebista histórico, que participou da transição democrática. “Na época do Doutor Ulysses [Guimarães], e eu aprendi isso com ele, a gente dizia que ‘em política, até o ódio é combinado’. E era mesmo. Armava-se a briga, e esse teatro era examinado. A política é a tentativa de definir o que todos querem e os parâmetros de como vamos chegar lá. Hoje tem dissenso em tudo — e não tem diálogo nenhum.”
O centro precisa ter seu candidato para ir para o segundo turno, mas não espere definições antes de 2 de abril, o prazo final para as filiações partidárias. A outra data crítica no calendário eleitoral é o prazo que vai de 20 de julho a 5 de agosto, período no qual todos os grandes partidos realizarão suas convenções para escolher seus candidatos.
“Para o PT, é importante a polarização com Bolsonaro. Ele precisa que Bolsonaro cresça, pois todo o voto contra o Bolsonaro vai para ele, e vice versa.”
Sobre Bolsonaro, Jobim disse que “a volta da autoridade é uma absoluta necessidade do País, mas não neste modelo.”
Jobim alertou para as consequências de Lula ser impedido de concorrer. “Não me agrada nada retirar da corrida o candidato que está grande, porque isso pode gerar um problema de legitimidade para o próximo Governo. Imaginem o discurso de vitimização que será feito!”
Para ele, toda a movimentação recente de Lula sugere que o PT está pronto para a hipótese de Lula não poder concorrer. Neste caso, Lula apontaria algum outro candidato para um ‘voto de protesto’ por parte de seus eleitores, que diriam: “Voto em A porque não me deixaram votar em B. Voto neste aqui porque ‘a elite’ impediu Lula de concorrer.”
Jobim sugeriu ainda não estar convencido de que o uso de caixa 2 em campanhas vai acabar — mesmo depois da Lava Jato.
E, num sinal de que seu vaticínio está fincado na realidade, Jobim disse que um empresário seu amigo foi procurado por um candidato que lhe propôs o seguinte: o empresário daria um aumento de 30% a seus funcionários, e eles, como pessoas físicas, fariam doações à campanha.
“Eu disse a ele, ‘você está louco? Não se meta com isso!’ Mas o pior de tudo é que ele parecia achar a proposta interessante.”