Eliezer Batista, que criou a logística no coração da Companhia Vale do Rio Doce, sonhou e tirou do papel projetos de um Brasil Grande, morreu hoje.
Ele tinha 94 anos.
Pai do empresário Eike Batista, que também se notabilizou por abraçar projetos estruturantes, Eliezer Batista da Silva nasceu em 4 de maio de 1924 em Nova Era, Minas Gerais, e formou-se engenheiro ferroviário pela Universidade do Paraná em 1948.
No ano seguinte foi contratado pela Vale, onde em 1961 tornou-se o primeiro presidente oriundo dos quadros da empresa.
Ficou no comando até 1964 e, uma segunda vez, de 1979 a 1986.
Transformou a mineradora numa das maiores companhias do planeta, inventando a chamada ‘logística combinada’, pela qual os navios da Vale levavam minério de ferro e traziam outros produtos que o Brasil importava.
Entre 1962 e 1963, foi brevemente ministro das Minas e Energia no (também abreviado) Governo João Goulart, mas aproveitou a oportunidade para botar de pé o projeto do Porto de Tubarão. O chamado Sistema Sul da Vale — as jazidas de Minas Gerais e a Estrada de Ferro Vitória-Minas — já existia, mas com baixíssima eficiência e sem escala. Eliezer muda o jogo criando Tubarão, com um calado suficiente para receber navios que nunca haviam aportado aqui.
Com o Governo Jango deposto, Eliezer começa a ser perseguido. Era chamado de comunista —inclusive, porque falava russo. Seu amigo Roberto Campos, ministro do Planejamento do governo militar, disse que intercederia por ele junto ao Presidente Castello Branco e lhe arranjaria a posição de chefe de gabinete em seu ministério. “Eliezer respondeu que era um homem de Estado e não trabalharia ‘para aqueles gorilas’,” diz Luiz Cesar Faro, amigo de Eliezer e coautor da biografia “Conversas com Eliezer”. (O título original era ‘O Construtor de Catedrais’, mas a modéstia do biografado não deixou.)
Mais tarde, Augusto Azevedo Antunes, dono da holding Caemi, convidou Eliezer a reproduzir o modelo vitorioso da Vale. Juntos, criam as Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), transformando a empresa – a partir da construção do porto Guaíba/Guaibinha, na entrada da Baía de Sepetiba – no segundo sistema de exportação de minério de ferro do país.
No Governo Figueiredo, volta à presidência da Vale, onde se notabilizaria por expandir a exploração da jazida de Carajás. Eliezer replica a experiência de Tubarão, construindo os quase 900 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás e o Terminal Portuário de Ponta da Madeira, que, assim como Tubarão, reduz as distâncias entre o Brasil e seus principais mercados. Carajás transforma Eliezer numa figura respeitada no Japão, o principal comprador do minério brasileiro.
Em 1992, Eliezer foi secretário de Assuntos Estratégicos do governo Collor.
Poliglota autodidata, falava russo, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol.
Eliezer deixa sete filhos: Monika, Lars, Eike, Helmut, Dietrich, Werner e Harald.
Ao entrevistar Eliezer para a revista Trip em 2012, Paulo Lima comentou que “quando a gente estuda sua biografia, tem a impressão de que ganhar dinheiro nunca foi uma prioridade.”
Eliezer respondeu:
“Acho que dinheiro é necessário para trazer um certo conforto, mas ser rico nunca foi meu ideal. Sempre fui movido pelo desafio de fazer. Talvez alguns me confundam com um dos meus filhos, Eike, mas ele também não tem isso como prioridade, não, só que se exprime de outra maneira. Quando ele fala em riqueza, é de criar riqueza, e não de ficar rico. Tanto que Eike poderia estar vivendo em Paris como muitos aí fazem, né? Vão pra Miami ou pra qualquer lugar na França. Como dizem por aí, dinheiro não traz felicidade, mas ajuda o sofrimento em Paris [risos]. Mas tudo o que o Eike tem está investido em empreendimentos nacionais que, por sua vez, geram empregos no Brasil. É uma das pessoas mais generosas que conheço, não tem nada de avarento.”