O General Antonio Hamilton Martins Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, agradou os investidores que foram ouvi-lo agora à tarde na sede do BTG Pactual, em São Paulo.
Descreveu o Brasil como um país “caro, burocrático, corporativista, deficitário no campo fiscal, antiético e com práticas obsoletas.”
Contra estas mazelas, defendeu disciplina fiscal e priorização de gastos, reforma tributária, privatizações, desregulamentação, gestão profissional do setor público (com menos políticos nos ministérios).
Afirmando que a reforma da Previdência é “absolutamente essencial” e que quem quer que seja o eleito terá que fazê-la, Mourão disse que o ideal é que ela seja votada já este ano, depois das eleições.
Assim como a metamorfose do próprio Bolsonaro — que nos últimos anos votou no Congresso contra uma série de medidas vistas como pró-mercado — a profissão de fé liberal do general chama a atenção porque o regime miltar (elogiado por Bolsonaro e por ele próprio) promoveu uma descomunal intervenção do Estado da economia, controle de preços e apoio às estatais. Comparando o passado com o presente, o mercado terá que decidir se o novo credo é sincero ou apenas uma conveniência política.
No evento do BTG, Mourão também manifestou apoio irrestrito à democracia. Há menos de um ano, ele havia sugerido a possibilidade de uma intervenção militar quando afirmou numa palestra que “ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”.
Gestores descreveram Mourão como “zero arrogante” e “bastante natural”. O general trajava terno azul escuro e gravata amarela.
O evento não foi aberto à imprensa. Segundo pessoas presentes, Mourão levou uma apresentação em PowerPoint que durou cerca de 45 minutos, e em seguida respondeu a perguntas da audiência com a mediação do jornalista Augusto Nunes.
Quando Mourão se manifestou a favor das privatizações, Nunes o pressionou especificamente sobre a Petrobras — e o militar se mostrou um político.
Disse que a Petrobras é uma empresa muito grande, que a coisa tem que ser bem esmiuçada, mas concluiu que se o novo Governo chegar à conclusão de que é melhor privatizá-la, Bolsonaro o fará. “Ele foi cauteloso, na direção certa,” disse um dos presentes.
Augusto Nunes notou que 11 vice-presidentes brasileiros já assumiram a Presidência, e provocou o general perguntando se não há inconsistência no fato do cabeça de chapa ser um capitão, enquanto o vice é um general.
“Neste caso, ele é o Zero Um, e eu sou o subcomandante,” respondeu Mourão.
A impressão geral foi de que Mourão foi muito bem preparado para falar de economia, mais até do que Bolsonaro, que não foi ao evento com os presidenciáveis que o BTG organizou há duas semanas. (Os únicos ausentes foram Bolsonaro e Marina.)
“Já tem gente achando que é pra votar no Bolsonaro, depois ‘impeach’ ele para ficar com o General,” brincou um gestor, numa piada que revela muito sobre o Brasil de hoje.
Outro presente disse que o general se mostrou “uma versão mais light do Bolsonaro, bem mais ponderado.”
Na semana que vem, como parte da série de entrevistas com os vices, o BTG vai receber Kátia Abreu, vice de Ciro Gomes, e Ana Amélia Lemos, vice de Geraldo Alckmin.
“Pela primeira vez no Brasil, os vices são melhores que candidatos,” disse outro investidor. “Desta vez, se eles caírem, a coisa melhora. Eu preferiria votar na Ana Amélia que no Alckmin, na Katia Abreu do que no Ciro.”