Se organizar direitinho, todo mundo vai ser vacinado.
A questão é, quem estará no começo da fila?
A vacina contra o coronavírus nem está pronta, mas já está gerando disputas na diplomacia internacional.
Depois que o CEO da Sanofi, Paul Hudson, disse que os Estados Unidos devem ser o primeiro país a receber as vacinas da empresa, diversos políticos franceses responderam com indignação — evidenciando um conflito que só deve se acirrar nos próximos meses.
O Primeiro Ministro da França, Edouard Philippe, disse no Twitter que “o acesso igualitário à vacina não é negociável.” Já a chefe de gabinete do Ministro da Economia, Agnès Pannier-Runacher, disse que “seria inaceitável que houvesse privilégio de acesso para determinado país por um pretexto financeiro,” segundo a Bloomberg.
A prioridade aos EUA tem a ver com o fato do país ter sido o primeiro e maior financiador da pesquisa da empresa.
Olivier Faure, o presidente do Partido Socialista Francês, foi além: sugeriu que a Sanofi corre o risco de ser estatizada caso insista nesse caminho. Oh là là…
Os conflitos na França são apenas a ponta do iceberg de um debate complexo que envolve ética, direitos humanos, capitalismo e incentivos.
Ainda que um diretor da Organização Mundial da Saúde tenha dito recentemente que as vacinas são “bens públicos globais, que pertencem a todo mundo”, na prática a teoria parece ser outra — e várias empresas já deixaram claro para onde irão suas primeiras doses.
No mês passado, o CEO da AstraZeneca, a farmacêutica que está desenvolvendo uma vacina em parceria com a Universidade de Oxford, disse que, caso tenha sucesso no desenvolvimento da vacina, a prioridade será o Reino Unido.
Enquanto as potências globais disputam o primeiro lugar na fila, os países emergentes apenas se lamentam — e torcem para não serem os últimos.
“Ninguém deveria ser empurrado para o final da fila da vacina por causa de onde mora ou de quanto ganha,” disse recentemente o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Por aqui, o governo não está exatamente focado nisso.
O Brasil foi um dos poucos países que não aderiu à aliança global criada pela OMS que levantou US$ 8 bilhões para o desenvolvimento conjunto de uma vacina, testes e medicamentos.
Numa vaquinha global transmitida pela internet e à qual compareceram presidentes e primeiros ministros, o Brasil se notabilizou por sua ausência. Mas tinha ‘aliados’: Estados Unidos, Rússia e Índia também não participaram.