A Fundação Petros, fundo de pensão da Petrobras, sondou o mercado para saber se haveria apetite para vender cerca de 4 bilhões de reais em ações da BRF, a empresa dona da Sadia e da Perdigão.
A decisão deve ser tomada na semana que vem pelo comitê de investimentos do fundo.
Como o lote é muito grande, a Petros está tentando avaliar o nível de desconto necessário para vender o lote. O feedback do mercado foi de que há demanda, mas a coluna não conseguiu determinar que desconto é esse.
A ação da BRF negociou entre 130 milhões e 150 milhões de reais por dia durante o último mês, ou seja, o lote que a Petros quer vender equivale a cerca de um mês de negociação. Se a venda sair a 60 reais por ação, os 4 bilhões representarão 60% da posição da Petros na empresa.
No caso da BRF, o chamado ‘free float’ — a parte de uma empresa que negocia livremente entre seus milhares de acionistas — é menor do que se imagina, porque grandes investidores têm boa parte do capital da empresa e não costumam mexer em suas posições.
A Petros é a maior acionista da BRF, com 12,5% do capital, seguida pela Previ com 11%, e pela Tarpon Investimentos, com 10,5%.
A ação da BRF está próxima de sua máxima histórica. A empresa tem se beneficiado do ciclo da proteína — alto preço do frango e baixo preço dos grãos, o principal insumo para a criação de aves — além de estar passando por uma profunda transformação em seu modelo de negócios liderada pela Tarpon em conjunto com o empresário Abilio Diniz, que é dono de 2,7% da empresa e preside seu conselho de administração.
A decisão da Petros de vender este lote tem a ver com a necessidade do fundo de ajustar seu portfólio, do qual a BRF é o filé mignon, por ser uma empresa redonda e com liquidez substancial.
A Petros fechou 2014 com seu principal fundo de previdência no vermelho (pelo segundo ano consecutivo), com um déficit técnico de 6,2 bilhões de reais, segundo um relatório interno obtido pelo Globo em abril. Segundo o jornal, os prejuízos sucessivos devem obrigar os funcionários e aposentados da Petrobras a fazerem contribuições extras ao fundo a partir de 2017.
Desde março deste ano, uma nova gestão na Petros está limpando a casa depois que investimentos feitos em gestões anteriores azedaram sua carteira de ações. Os maus investimentos incluem a BR Properties, a BR Pharma e a DASA, para ficar em alguns nomes. Além disso, a Polícia Federal abriu um inquérito, no âmbito da Lava-Jato, para investigar transações feitas pelo fundo em gestões passadas, principalmente a de Wagner Pinheiro, atual presidente dos Correios.
Apesar de estar no cargo há pouco tempo, o novo presidente da Petros, o economista Henrique Jäger, tem conquistado o respeito do mercado. Além de presidir a Petros, Jäger é membro do conselho de administração do Banco do Brasil, indicado pelos minoritários, desde 2008. Sua indicação ao comando da Petros é atribuída a Aldemir Bendine, ex-CEO do Banco do Brasil e atual presidente da Petrobras.
A Petros é o segundo maior fundo de pensão do país, com 66 bilhões de reais de patrimônio e 158 mil participantes.