The deal
BTG e Bradesco passarão o fim de semana conversando sobre a venda do braço de gestão de recursos do banco de André Esteves, uma transação que injetaria caixa no banco e o ajudaria a sobreviver. A negociação não inclui os ativos geridos pelo BSI — o banco suíço que o BTG comprou, e que o BTG computa como ‘wealth under management’ — apenas os ativos sob gestão e administração, que montavam a 230 bilhões de reais no fim do terceiro trimestre e que sofreram resgates nos últimos três dias.
Uma grande motivação para o Bradesco comprar seria o fato de que os valores sacados do banco nos últimos dias estariam indo majoritariamente para o braço de gestão do Itaú, conforme a evidência empírica relatada por vários participantes do mercado.
Muita gente acha que o Bradesco deveria comprar toda a operação bancária, separando e deixando os investimentos de private equity com os atuais sócios do BTG.
“O Itaú tem uma máquina fabulosa chamada Itaú BBA,” diz um veterano de mercado que fez a vida em bancos de investimento. “Para o Bradesco, seria uma oportunidade única, num contexto de crise, de comprar uma operação de banco de investimentos extremamante competitiva que ele nunca conseguiu construir com o Bradesco BBI.”
Mais: “Eu manteria o banco de investimentos do BTG absolutamente separado do Bradesco (até a logomarca) e colocaria um CEO da cultura Bradesco para vigiar, mas deixaria as pessoas trabalharem do jeito que fazem hoje. Banco de investimentos é liberdade e criatividade.”
A mesma praça.. o mesmo banco…
Tanto a entrevista de Persio Arida ao Valor de sexta-feira quanto o comunicado que o banco enviou aos clientes tentaram separar, diplomaticamente, o futuro do banco do futuro de Esteves. Mas teve gente que já viu esse filme.
Diz um ex-sócio do antigo Banco Pactual: “Substancialmente, é o mesmo texto de 15 anos atrás atualizado pelo tempo. Eu já vi esse filme antes: os sócios o expulsam, fazem críticas severas a ele nos bastidores chamando-o de louco e irresponsável, ele vai embora e vive para sempre tentando uma tacada que o levará de volta ao topo. Basta ver o ‘Sr. Esteves’ no texto que publicaram para confirmar que vai ser exatamente como está dito aí. Mas já começou.”
O risco desconhecido
Entre os funcionários do BTG, vítimas colaterais da prisão de Esteves, a grande esperança é de que não se comprove nenhuma operação financeira ilícita na qual o banco esteja envolvido. Mas, dado o foco da Lava Jato sobre a teia de relações corporativas e governamentais de seus investigados, a esperança de muitos funcionários faz jus àquela fama de ser a última que morre.
Na oferta de 50 mil reais/mês feita pelo Senador Delcídio Amaral à família de Nestor Cerveró caso o ex-diretor da Petrobras não implicasse nem Amaral nem Esteves, a grana viria de onde? “Ao menos parte desses recursos seria dissimulada na forma de honorários advocatícios a serem convencionados em contrato de prestação de serviços de advocacia entre André Esteves e/ou pessoa jurídica por ele controlada (grifo da coluna) com o advogado Edson Ribeiro,” escreveu o Procurador Geral da República no pedido de prisão de Esteves.
Aparentemente, o dinheiro não chegou a ser pago, mas considerando-se a estrutura proposta, no banco e no mercado a grande pergunta é se Esteves já usou o banco para fazer pagamentos escusos. “Se a PF achar uma prova sequer disso, isso joga o banco no meio do turbilhão; por enquanto, este é um ‘problema André Esteves’,” diz um advogado que conhece bem o banco. “Mas se descobrirem que o BTG foi usado, a coisa muda de figura.”
Ruim sem ele; pior com ele
Dentro do banco, muitos sócios já torcem discretamente para que Esteves permaneça preso. “O estrago da prisão já foi feito. Se ele for solto, tem a chance de querer retomar, ‘matar no peito’ e isso pode criar mais problemas para o banco, mas se ele ficar preso mais cinco dias, o fim dele já estará sacramentado,” diz uma fonte do banco.
Vale de lágrimas
Marcelo Kalim reuniu cerca de 30 sócios e fez um discurso emocionado na sede do BTG na sexta à tarde. Chorando, bateu no peito e disse: “O banco não vai acabar, não pode acabar, todos temos que lutar.” Kalim é um dos sócios-fundadores e CFO do banco.
‘Teje preso’
Opinião de um respeitado advogado de São Paulo que tem cliente na Lava Jato. “É mais fácil o mar secar do que o Esteves ser solto segunda-feira. A [prisão] temporária será renovada por mais cinco dias e possivelmente se tornará preventiva porque o Esteves é o banqueiro de tudo, e é um cara que é fácil de quebrar num interrogatório pesado. A PF vai aproveitar a oportunidade para puxar todos os fios da meada financeiros dessa confusão toda.”
Ainda segundo ele, a prisão de Bumlai um dia antes teve por objetivo evitar que eles combinassem depoimentos. “Bumlai mais Esteves é igual a Lula.”
Ouro de tolo
Nas negociações para uma eventual venda do banco, o medo dos sócios menores do BTG é de que o banco seja vendido abaixo de seu valor patrimonial (o ‘book value’).
Isso criaria um rombo para o patrimônio pessoal de muitos destes sócios, que compraram ações do banco e foram financiados por ele.
Como a regra da sociedade do banco estabelece que os sócios compram e vendem ação do banco a valor patrimonial, não importando o valor em Bolsa, as ações destes sócios menores foram compradas a valor patrimonial.
O difícil, sob as circunstâncias atuais, é conhecer o valor real do patrimônio do BTG. “Acreditar no book do banco a esta altura virou uma questão de fé,” diz um gestor.
Game over
De um ex-sócio do BTG, entristecido com o que está acontecendo:
“O BTG, como a gente o conhece, morreu três dias atrás. Entre os problemas de ‘funding’, que estão aumentando, a identificação do banco com o André e a incerteza com relação ao valor dos ativos do banco dada a potencial contaminação dos investimentos de private equity, as coisas mudaram para sempre.”
Sobre o private equity, esta fonte nota que, ainda que os investimentos tenham sido feitos pela companhia de investimentos (e não pelo banco em si), o banco é credor de muitas das empresas. Se elas quebram, o balanço do banco sofre.
Redefinindo conceitos
Ao assistir, ao vivo na GloboNews, Esteves sendo transferindo para um presídio no Rio, um outro ex-sócio do banco concluiu:
“Riqueza verdadeira é dormir na sua própria cama.”
Perto do sol
“Quanto mais próximo do sol ele ficou, mais ele se sujeitou a se queimar,” diz um gestor que já teve negócios com o BTG.