Nem todo mundo está broxa com o Brasil.
A multinacional inglesa Reckitt Benckiser acaba de pagar 675 milhões de reais pelas marcas Jontex, Olla e Lovetex, que até agora pertenciam à Hypermarcas.
O preço equivale a quase sete (!) vezes a receita das três marcas, que ficou em 100 milhões de reais em 2014, o último ano para o qual os dados são públicos (a Hypermarcas divulga seu resultado de 2015 no dia 19 de fevereiro).
A transação vem quase dois meses depois da Hypermarcas vender seu negócio de cosméticos — que incluía marcas como Bozzano, Monange, Paixão, Biocolor, Risqué, Cenoura & Bronze — para a gigante americana Coty.
Comparada com o múltiplo pago pela Reckitt, aquela transação agora até parece barata: a Coty pagou ‘apenas’ 3,88 vezes a receita líquida gerada pela divisão de cosméticos.
Mas por maior que pareça, o valor oferecido pela Reckitt está em linha com negócios recentes envolvendo medicamentos e produtos farmacêuticos para os quais não é preciso receita médica, conhecidos como OTC (óver the counter’).
Para cumprir seu objetivo (já declarado) de se tornar uma farmacêutica pura, a Hypermarcas agora deve concluir a venda de seu negócio de fraldas — que faturou 850 milhões de reais em 2014 — e, muito provavelmente, seu portfólio de adoçantes: Zero-Cal, Finn e Adocyl.
Tanto a venda para a Coty quanto esta para a Reckitt fortalecem o argumento, há muito defendido por acionistas da Hypermarcas, de que a empresa negocia a um desconto indevido na Bolsa.
A divisão farmacêutica da empresa tem uma receita líquida anual de cerca de 3,5 bilhões de reais. Assumindo que ela possa ser vendida a um múltiplo de sete vezes seu faturamento (um múltiplo conservador tendo em vista outras transações comparáveis recentes), a Hypermarcas poderia valer pelo menos 24,5 bilhões de reais para um comprador estratégico: quase o dobro de seu valor de mercado atual (14 bilhões de reais).
A venda dos preservativos também ilumina a situação peculiar que o novo patamar do câmbio está gerando para compradores e vendedores no jogo do M&A. Para a Reckitt, os cerca de 170 mihões de dólares pagos são um preço relativamente baixo para a empresa ganhar acesso a metade do mercado brasileiro de camisinhas. Já para a Hypermarcas, é dinheiro de gente grande. Se aplicar os 675 milhões de reais no CDI (14,25% ao ano), a Hypermarcas obterá um rendimento de 96 milhões de reais/ano: quase o mesmo faturamento do negócio que está sendo vendido (e sem os custos e o desafio de gerir o negócio).
Algumas taxas de juro são mesmo de causar ereção.