A venda do UFC, ontem, por US$ 4 bilhões coroa uma trajetória de criação de valor num negócio fundado em 1993 por Rorion Gracie.
Rorion, que mora na Califórnia, é filho de Helio Gracie, o homem que, com seu irmão Carlos, popularizou a arte milenar do jiu-jitsu — dando ao mundo o que os gringos chamam de ‘Brazilian jiu-jitsu’.
Desde ontem, os novos donos da UFC são a WME-IMG (empresa que faz a gestão de carreira de esportistas), as gestoras de private equity Silver Lake e KKR, e o family office de Michael Dell, o fundador da empresa de PCs.
Na ponta vendedora estão os irmãos Lorenzo e Frank Fertitta III, donos de cassino em Nevada que compraram a franquia de Rorion Gracie em 2001 por apenas US$ 2 milhões.
Sete anos depois, em maio de 2008, a Forbes avaliou a empresa dos Fertitta — a Zuffa LLC — em US$1 bilhão. (Zuffa é ‘luta’ em italiano.)
Consultado sobre a venda, Rorion Gracie manteve o bom astral e não passou recibo sobre o dinheiro que, pelo menos em tese, deixou sobre a mesa: “A invenção deles era para fazer dinheiro, e eles fizeram. Aproveitaram a jornada por muito tempo e fizeram a decisão de vender. Precisamos respeitar isso. Se fosse eu, faria o mesmo”.
Hoje, as lutas da UFC — soco, sangue e saliva — são exibidas em 156 países, mas o negócio começou pouco ambicioso.
Um empurrão importante veio em 2010, quando a Flash Entertainment comprou uma participação de 10% na Zuffa. A Flash pertence ao Sheik Tahnoon Bin Zayed Al Nahyan, irmão do príncipe Mohamed, que governa os Emirados Árabes Unidos.
Quando fez a sociedade com o Sheik Tahnoon, Lorenzo Fertitta declarou a uma revista que cobre MMA: “Nós não precisamos do dinheiro. Este não era o objetivo. Para trazer alguém para dentro, tinha que ser alguém que poderia realmente ser um parceiro estratégico e poderia ajudar a criar um valor maior para a empresa a longo prazo.”
Bingo. O Sheik Tahnoon — faixa preta de jiu-jitsu que aprendeu a lutar com Renzo Gracie — é um apoiador fervoroso do esporte, e se tornou uma figura conhecida em toda a comunidade de luta como o fundador do Abu Dhabi Combat Club, que promove um campeonato de esportes de submissão.
Além de parcerias certas e de um management que soube globalizar a marca, o UFC também deu sorte na vida. Seu único concorrente de fato, a japonesa Pride Fighting Championships, sucumbiu em meio a especulações na imprensa de que sua controladora era uma fachada para a Yamaguchi-gumi, uma conhecida organização da máfia japonesa, a yakuza. As alegações levaram a Fuji Television a cancelar seu contrato de transmissão com a Pride em 2006, deixando a Pride de fora da TV aberta (e sem um faturamento substancial).
Aproveitando a fraqueza do concorrente, o UFC comprou a Pride em 2007 e virou quase um monopólio, herdando os melhores lutadores da concorrência. À época, Lorenzo Fertitta disse que o UFC queria ser ‘tão grande quanto o futebol é ao redor do mundo.’