A Royal Dutch/Shell está tentando vender sua participação na Comgás, mas o comprador mais lógico ainda é a Cosan, sua sócia e atual controladora da empresa.
Por meio do BTG Pactual, a Shell está oferecendo seus 17,12% do capital total da distribuidora de gás, na forma de 21,85% das ações ON da empresa.
No mercado, a visão majoritária é de que a posição da Shell não deve atrair investidores estratégicos. “O Brasil teria que estar muito na moda para alguém querer ser minoritário,” diz um banqueiro que não está envolvido na operação.
Segundo a repórter Mônica Scaramuzzo, que noticiou o esforço de venda com exclusividade na sexta-feira, o Temasek foi procurado e não se interessou.
A segunda hipótese de saída envolveria vender as ações de forma pulverizada, mas isso seria mais fácil se a Comgás estivesse listada no Novo Mercado.
A Cosan — que controla a empresa com 75% das ONs e 16% das PNs — já tentou unificar as duas classes de ações e levar a Comgás para o Novo Mercado, mas esbarrou na oposição de um acionista histórico da empresa, Luiz Alves Paes de Barros.
Como as PNs pagam dividendos 10% maiores que as ONs, Alves exigia que suas PNs recebessem um prêmio de 10% na conversão para ONs.
Alves era dono de 40% das PNs, e como a lei exige a adesão de pelo menos 66% das PNs numa migração para o Novo Mercado, sua resistência era um impeditivo automático.
Desta vez, as coisas poderiam ser diferentes. Ao longo do último ano e meio, Alves vendeu boa parte de sua posição, e agora tem pouco mais de 20% das PNs.
Ao mesmo tempo, novos investidores entraram no papel, como a SPX Capital e a Atmos. Na ponta do lápis, se a Cosan tentasse uma nova migração numa relação de troca de 1:1, desta vez Alves poderia ser voto vencido.
A questão aqui é se a Cosan teria realmente interesse em levar a empresa para o Novo Mercado — ou se pretende aumentar sua posição comprando da própria Shell.
Até outubro, a Shell pode exercer uma opção de trocar suas Comgás ON por ações da própria Cosan (CSAN3). Se a Shell não achar um comprador até lá, parece inevitável que as duas empresas — que já são sócias na Raízen — façam negócio. (Se essa ‘put’ for exercida, a Cosan ficará com 80% do capital da Comgás.)
Nos últimos anos, a Comgás tem sido um dos melhores ativos do portfólio da Cosan. Mesmo tungada pelo Estado de São Paulo, a companhia aumentou sua geração de caixa em 16,6% ao ano entre 2000 e 2016.
Só no ano passado, a participação da Cosan na Comgás rendeu à empresa dividendos de R$ 830 milhões, e analistas estimam que este número vai crescer nos próximos anos.