Dois meses depois do IPO, o Carrefour Brasil está trocando seu comando, incumbindo outro executivo francês de navegar as águas traiçoeiras do varejo brasileiro.
Charles Desmartis, que ficou quatro anos à frente da operação brasileira e foi o responsável por estruturá-la para a oferta inicial de ações, foi substituído por Noël Prioux, que liderava a operação francesa.
Com 33 anos de casa, Prioux teve passagens por diversos mercados emergentes, como Turquia, Colômbia e Sul da Ásia.
O movimento surpreendeu o mercado: por volta do meio-dia, as ações caem quase 4% na B3.
“O Desmartis era um cara com perfil mais financeiro e o Prioux é essencialmente um cara de operações”, diz uma fonte próxima ao Carrefour.
Desmartis nunca foi visto como o homem de referência do Carrefour Brasil, papel que cabe a Roberto Mussnich, CEO do Atacadão, que será mantido no cargo. O atacarejo responde por 60% das receitas e 50% do EBITDA da companhia.
Investidores questionaram por que Mussnich não foi nomeado chefe de toda a operação no Brasil. Antes da compra do Atacadão, o Carrefour Brasil andava de lado e passou até por um escândalo de fraude contábil que revelou um rombo de mais de R$ 1 bilhão nas contas em 2010.
“No caso de uma troca, o mercado esperava que o Mussnich, que foi responsável pelo sucesso do Atacadão, mas o Bompard nomeou alguém que nunca deve ter pisado no Brasil”, disse um gestor que tem Carrefour na carteira.
Já o talento de Prioux tem sido colocado à prova. O Carrefour França vem apresentando resultados decepcionantes nos últimos anos, em meio à concorrência com o varejo online e rivais com preços mais baixos.
O anúncio de hoje faz parte de uma série de mudanças no Carrefour global. O CEO Alexandre Bompard, que sentou na cadeira de CEO e chairman do grupo há pouco mais de dois meses, está trocando sua guarda pretoriana.
Pascal Cluzard, head da Espanha, foi nomeado CEO da operação francesa e Eric Uzan, que liderava o Carrefour Itália, passou a acumular também a unidade espanhola.
Numa reestruturação do grupo em áreas geográficas, a companhia também anunciou que a operação argentina vai passar a se reportar ao Carrefour Brasil, o que imediatamente gerou especulações entre corretoras que cobrem o papel de que o Carrefour Argentina possa, mais à frente, ser incorporado totalmente pela unidade brasileira.
Outra dúvida é em relação à permanência dos demais executivos no Brasil. O CFO Sebastién Durchon é bastante ligado a Desmartis, ainda que, de acordo com pessoas próximas, também tenha ‘costas quentes’ com Alexandre Bompard.
O CEO global já havia sinalizado que haveria mudanças no grupo após a divulgação de um resultado decepcionante no primeiro semestre. O lucro operacional caiu 12,5% (ou 21,5% em câmbio constante) e a expectativa é que o desempenho se mantenha no restante do ano.
Na ocasião, a projeção de crescimento da receita para o ano foi cortada de uma faixa que ia de 3% para 5% para outra de 2% a 4%, puxada, principalmente por uma forte queda da inflação de alimentos no Brasil.
Como parte da reestruturação, Bompard anunciou a criação de um comitê de 14 executivos, que atacarão três áreas no Carrefour: ‘consumidores, serviços e transformação digital’, ‘recursos humanos’ e ‘comunicação’.