A Fras-le, subsidiária da Randon, está comprando a distribuidora de autopeças Nakata por R$ 457 milhões, no maior movimento de sua história de crescimento via aquisições.

A compra está dentro da estratégia da Randon de reduzir a relevância dos segmentos de implementos rodoviários — as carrocerias de caminhões — e venda de autopeças para montadoras, que são mais dependentes do PIB, enquanto aumenta sua relevância no segmento de reposição de peças, que oscila menos durante os solavancos da economia. 

Na Nakata, 98% do faturamento vem do mercado de reposição, contra 86% da Fras-le. 

A compra ajuda a destravar valor dentro da Fras-le, cujas ações andaram praticamente de lado este ano por conta dos resultados fracos no primeiro semestre e da exposição da companhia à Argentina. 

As ações da Fras-le sobem 15,5% no pregão de hoje, levando a companhia a um valor de mercado de R$ 1,3 bi. As ações preferenciais da Randon, que já subiram 40% em 2019, tem avanço mais tímido, de 1,3%.

No mercado, especula-se que a transação possa abrir caminho para a saída da Gávea Investimentos do capital da Fras-le. A gestora, que ancorou um aumento de capital de R$ 300 milhões em 2016, tem 16,2% da empresa. A Previ tem 12,5% e a Randon, 51%. 

Com a transação, o endividamento da Fras-le fica mais perto de 3 vezes EBITDA, e a companhia pode ter que recorrer a um aumento de capital se quiser continuar a crescer via M&A.

Analistas calculam que com a ação a pouco mais de R$ 6, o Gávea não teria prejuízo na operação. Hoje, a ação negocia a R$ 5,89. “Hoje a Randon tem fôlego para acompanhar e não ser diluída num follow-on”, diz o analista de uma corretora. “Além disso, com o mercado aquecido, é a oportunidade de contar direitinho a história e a nova fase da Fras-le.”

À primeira vista, o preço pago na transação parece caro: em torno de 6,6 vezes EV/EBITDA, considerando os números de 2018, frente ao múltiplo de 6,3 vezes que a Fras-le negocia em Bolsa olhando para os resultados de 2020.

Mas o que interessa são as sinergias, equivalentes a cerca de 1,5 vez o EBITDA da Nakata, de acordo com a própria direção da Fras-le. 

Os ganhos devem vir principalmente pelo lado das receitas. A Fras-le pode usar seus canais de distribuição para vender os produtos da Nakata e aumentar as vendas no mercado externo, onde faz quase metade da receita. (A Nakata é voltada essencialmente para o mercado interno)

A expansão de portfólio também é relevante. Enquanto a Fras-le atua principalmente em produtos voltados para freios, a Nakata também tem componentes de suspensão e transmissão. 

O histórico recente de alocação de capital da Fras-le dá à gestão do CEO Sérgio Carvalho o benefício da dúvida. A Fremax, adquirida há pouco mais de um ano, vem mostrando resultados melhores que os antecipados. 

A receita da Nakata deve chegar a R$ 510 milhões em 2020, o equivalente a 36% do guidance de receita da Fras-le e 10% da receita da Randon. A margem EBITDA hoje é similar à da Fras-le, na casa dos 13,5%. 

Com um negócio dependente do PIB e a demanda ainda combalida depois do fim do PSI — o programa federal de juros irreais que anabolizou a venda de caminhões e gerou consequencias trágicas — a Randon passou os últimos anos fazendo a lição de casa, revendo custos e reduzindo pessoal. 

O movimento se traduziu numa alavancagem operacional que já começou a aparecer desde o ano passado, quando o segmento de caminhões pesados, mais dependente do agronegócio, começou a reagir. 

O CEO Daniel Randon assumiu a empresa em março deste ano com a casa em ordem — substituindo seu irmão David, que ficou 10 anos no comando — e vem implementando uma gestão mais focada em inovação e tecnologia. 

Recentemente, a Randon anunciou o lançamento de um eixo de transmissão elétrico para caminhões que promete reduzir o consumo de combustível em 25%, e deve começar a ser vendido em 2021. 

A BR Partners assessorou a Nakata, que teve legal advice do Pinheiro Neto.

A Fras-le não teve assessor financeiro e trabalhou com o Tozzini Freire.