Florian Bartunek administra R$ 12 bilhões na Constellation. Como todo fundo long-only, a Constellation está quase 100% comprada a maior parte do tempo. Suas principais posições são Lojas Renner, Rumo, B3 e Localiza.
Entre um circuit breaker e outro, Florian falou com o Brazil Journal sobre como está navegando a crise.
“Ainda é cedo para ter certezas, mas a grande diferença dessa crise em relação às outras é que ela tem começo, meio e fim. Em 2008, todo mundo achava que o sistema financeiro mundial poderia quebrar. Os grandes bancos estavam em risco e a questão era vender tudo porque não havia mais o que fazer. Desta vez não: você sabe onde a crise começou, sabe que o meio está um pouco adiante e sabe que em alguns meses o pior terá passado.
Se você vender agora e daqui a um mês concluírem que há um exagero — ‘ah, morre mais gente de dengue do que de coronavírus’ —, o mercado volta 50% e você realizou uma perda permanente.
Estou preocupado, mas vou ficar parado porque as minhas empresas deverão voltar. Elas não estão sofrendo tanto quanto a queda no preço das ações. A Renner, por exemplo, se ficasse parada um mês, perderia 1/12 do faturamento, mas o papel já caiu mais de 30%.
Não há destruição de capital permanente na maior parte das empresas.”
Perguntamos a Florian se a crise não está gerando um efeito dominó em que um problema (inicialmente localizado) acaba gerando outro, e assim por diante.
“Não vejo sentido em a gente ficar extrapolando cenários negativos um atrás do outro. Há sim problemas localizados no mercado de crédito (principalmente nas empresas do setor de energia), nas empresas de petróleo e nas empresas de turismo. Mas quem sofre primeiro e às vezes fica pelo caminho é o alavancado. A recomendação para as empresas é guardar o caixa e manter o acesso a linhas de crédito.
Pelo nosso DNA, estamos programados a dar mais atenção a notícias negativas. É o nosso instinto de sobrevivência. Não estou minimizando o que está acontecendo, mas existe sim um viés na forma como lemos as notícias.
Boa parte das nossas companhias estão ligadas ao mercado interno e não devem sofrer tanto. Obviamente se você é dono de uma companhia hoteleira, você vai ter que rever seus números, mas uma Raia Drogasil ou uma Renner devem passar por isso relativamente incólumes. Vamos responder a essa crise voltando aos fundamentos das empresas.”