A Raízen vai estrear na Bolsa valendo R$ 76 bilhões, concluindo o maior IPO da Bolsa este ano e um dos cinco maiores da história do mercado de capitais brasileiro.
A empresa de energia controlada pela Cosan e Shell precificou a oferta no piso da faixa que ia de R$ 7,40 a R$ 9,60, afetada pela volatilidade dos mercados globais nos últimos dias e por um baixo interesse do investidor institucional brasileiro.
No final, investidores internacionais — geralmente mais sensíveis à tese de investimento ESG — ficaram com 60% da oferta, enquanto 85% da alocação institucional ficou com fundos long-only.
A demanda total chegou a R$ 30 bi. O varejo, alocado com 15% da oferta, representou metade da demanda total, mas apenas investidores que aceitaram o lockup foram alocados.
A Raízen levantou R$ 6,9 bilhões.
A Raízen já tem 35 parques de bioenergia, etanol de primeira geração, açúcar e bioeletricidade. Com os recursos, vai expandir no que é a estrela da tese de investimento: o negócio de renováveis.
A Raízen vai usar 80% dos recursos para construir, nos próximos 10 anos, 20 plantas de etanol de segunda geração (E2G) e 39 plantas de biogás, um substituto do diesel. Cada planta de biogás também fará a chamada geração distribuída, plantas de até 5 megawatts de capacidade.
A empresa é a única produtora do mundo em escala industrial de E2G. A demanda pelo produto — por petroleiras da Europa, EUA e Japão — está tão forte que cada nova usina que fica pronta já nasce 100% vendida. O uso industrial do E2G vai de cosméticos a bioplásticos, de químicos a bebidas.
Este é o menor business da companhia, mas o que mais tem potencial de crescimento.
A Raízen deve fazer um EBITDA de R$ 11 bi este ano fiscal. A companhia tem dívida líquida de R$ 19 bi.
A empresa saiu a um múltiplo de 8,6x EV/EBITDA 2021, com crescimento estimado de EBITDA ao redor de 30% ao ano nos próximos anos. A finlandesa Neste, a maior empresa de energia renovável da Europa, negocia a 20x e vale EUR 45 bilhões na Bolsa.
A Raízen mói todo ano 105 milhões de toneladas de cana de açúcar. Sem precisar de um pé de cana a mais, a empresa disse aos investidores que é capaz de aumentar sua produção de etanol em 50% e a de energia em mais 50%.
No bom e velho negócio de postos de gasolina, a Raízen disse ao mercado que ainda vê espaço para ganhar share e melhorar suas margens.
No roadshow, o CEO Ricardo Mussa disse que a margem das distribuidoras brasileiras é muito ruim graças à sonegação de impostos, e que a reforma tributária pode mudar o jogo. A margem das distribuidoras no Brasil é 33% da margem na Argentina e 20% da margem no Paraguai.
A privatização do refino da Petrobras também pode ajudar a companhia. Hoje, a Petrobras vende a todos os compradores usando o mesmo contrato e aplicando o mesmo preço. Os novos controladores das refinarias devem usar uma lógica de mercado, e tratar os grandes players de acordo com sua escala.
Os bancos coordenadores foram BTG Pactual, Citi, Bank of America, Credit Suisse, Bradesco BBI, JP Morgan, Santander, XP, HSBC, Safra e Scotiabank.