Depois de cair 90% desde seu pico em fevereiro do ano passado, a ação da Stone decolou 28% no pre-market agora de manhã depois da empresa dar um guidance de forte crescimento e melhora das margens no primeiro trimestre deste ano.
A empresa da maquininha verde reportou ontem à noite um crescimento robusto de receita e uma adição recorde de clientes no quarto trimestre. Já o lucro ficou abaixo do esperado – com pressão de custos e despesas financeiras muito elevadas.
Mas o que carregou o papel no colo foi a mudança de tom da administração, que disse estar confiante na melhora de margens.
O lucro ajustado da Stone caiu 90% e ficou em R$ 34 milhões no quarto tri em relação ao 4T20 – pouco mais da metade dos R$ 65 milhões do consenso de mercado. (Sem o ajuste, a empresa teria tido um prejuízo de R$ 805 milhões por conta da marcação a mercado de seu investimento no Inter.)
A receita da Stone quase dobrou (+87%) para R$ 1,9 bilhão no quarto tri, e a companhia atraiu um número recorde de 378 mil novos clientes entre outubro e dezembro. A Stone fechou o ano com 1,8 milhão de clientes ativos – duas vezes mais do que em 2020.
Ajudando o crescimento da base de clientes: a Stone esperou para repassar para seus preços a alta da Selic – enquanto a receita financeira cresceu perto de 50% no trimestre, a despesa financeira dobrou, atingindo R$ 688 milhões.
“Nossa margem foi afetada no trimestre porque o juro subiu muito rápido, mas tomamos a decisão comercial agressiva de esperar um pouco, até novembro, para fazer a reprecificação,” o CEO Thiago Piau disse ao Brazil Journal.
Piau disse que as margens já estão se recuperando no primeiro trimestre.
Para os analistas do JP Morgan, a questão agora é se o mercado vai ou não “pagar adiantado” pelo crescimento apontado no guidance.
A Stone espera uma expansão de 113% a 119% na receita total em relação ao 1T21; um crescimento entre 79% e 83% para o TPV do segmento de micro e pequenas empresas, que reúne a maioria de seus clientes, além de um lucro ajustado antes de impostos de R$ 140 milhões, ante R$ 17,2 milhões no 1T21.
No 4T21, o TPV cresceu 87%; e em janeiro e fevereiro deste ano continuou crescendo acima de 80%, disse Piau.
Segundo o CEO, com o guidance, a empresa está dizendo ao mercado que está conseguindo equilibrar crescimento e margens melhores.
“Depois de passar mais de um ano falando de crédito, a Stone agora voltou ao discurso do IPO, focando o negócio de adquirência e, de fato, entregou um super crescimento de TPV e clientes,” disse um gestor.
O negócio de crédito da empresa deu errado e ainda está sendo reformulado – a expectativa é que os testes da nova operação comecem no segundo ou no terceiro trimestre.
A Stone não fez novas provisões e a carteira de crédito total ficou em R$ 850 milhões, dos quais quase R$ 500 milhões provisionados.
No Bradesco, os analistas Otavio Tanganelli, Gustavo Schroden e Eric Ito disseram que o risco de execução ainda é muito alto. “O churn pode aumentar por conta da reprecificação, e o custo do funding deve continuar pesando fortemente nos resultados, já que o juro continua subindo,” escreveu o time.
Chamou a atenção do sellside o fato da empresa ter excluído da conta do lucro ajustado uma despesa financeira de R$ 66 milhões referentes ao bond que a empresa emitiu para comprar a posição no Inter; se esta despesa tivesse sido incluída, a Stone teria apresentado um prejuízo antes dos impostos de R$ 49 milhões no trimestre.
A Stone também anunciou que está dividindo sua gestão em duas unidades de negócio, cada uma com um COO. Uma delas reúne a área de serviços financeiros, que inclui pagamentos e as operações de banking e crédito; já a divisão de softwares reúne a Linx e as demais empresas do portfólio da companhia.
A partir do primeiro tri, os resultados destas duas áreas serão reportados separadamente.
A empresa também reforçou o management.
João Bernartt, o empreendedor catarinense que fundou a startup Chaordic Systems, vendida para a Linx em 2015, é o novo CIO, responsável por produto, tecnologia e dados, com foco principal na plataforma financeira.
Sandro Bassili, o ex-vp de gente da Ambev, assume como o responsável por gente e gestão.
Diego Salgado, o diretor executivo de debt capital markets no JP Morgan até maio do ano passado, assumiu a tesouraria.